18 de fev. de 2022

inúteis lamentações





relembro sem saudade meus tempos de criança

agora que encaro os dias sem mais esperança

porque no tempo de eu menino

talvez encontre mais sabedoria do que agora

quando o caminho percorrido perfaz

mais estrada que o caminho a percorrer



no tempo de outrora

agora relembrado

tinha o passo lépido

tinha do vento o compasso

para o caminho o olhar alongado

no tempo dos olhos cansados

já o passo

encontra sempre o laço

para o tropeço

e o horizonte estreito

é às vezes apenas o leito

onde se remoem dias lentos de cansaço



o menino estúpido e fútil de outrora

conversa agora

como conselheiro de desencantos mal digeridos

mas os dois se abraçam na mediocridade

de uma vida sem heroísmos

queria ter havido no menino mais coragem e mais vontade

quero ter no velho mais ardor e menos dignidade



e os dois – assim elanguescidos e um ao outro grudados

vão desatando como o vento de outono desfolha as árvores

de seus rosários os nós das – agora - inúteis lamentações



19.4.2021

(Ilustração: Izzet Ziya - jovem no estúdio)



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