relembro sem saudade meus tempos de criança
agora que encaro os dias sem mais esperança
porque no tempo de eu menino
talvez encontre mais sabedoria do que agora
quando o caminho percorrido perfaz
mais estrada que o caminho a percorrer
no tempo de outrora
agora relembrado
tinha o passo lépido
tinha do vento o compasso
para o caminho o olhar alongado
no tempo dos olhos cansados
já o passo
encontra sempre o laço
para o tropeço
e o horizonte estreito
é às vezes apenas o leito
onde se remoem dias lentos de cansaço
o menino estúpido e fútil de outrora
conversa agora
como conselheiro de desencantos mal digeridos
mas os dois se abraçam na mediocridade
de uma vida sem heroísmos
queria ter havido no menino mais coragem e mais vontade
quero ter no velho mais ardor e menos dignidade
e os dois – assim elanguescidos e um ao outro grudados
vão desatando como o vento de outono desfolha as árvores
de seus rosários os nós das – agora - inúteis lamentações
19.4.2021
(Ilustração: Izzet Ziya - jovem no estúdio)
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