no aparelho a terra treme
os ventres pipocam acima do medo
o amor sobre as tábuas geme
no ar o cheiro de pólvora e segredo
toca o dedo trêmulo a campainha
mais um companheiro baleado
mais um companheiro desgraçado
sempre chega mais um e se aninha
o amor foge pelas frestas da porta
na espera e na angústia de mais um dia
a vida lá fora parece morta
a vida aqui dentro transpira melancolia
não há revolta nos olhos das mulheres
não há angústia no peito dos homens
apenas o mover lento dos talheres
e tu és a luta e apenas tu me consomes
desde que trema a terra
cada vez que nossas coxas ficam vermelhas
na paixão que na audácia se consome sob as telhas
há o tesão e o ódio para manter a paixão acesa
na luta pelo nosso ideal
porque mais que o amor e o ato que tremem a terra
mais que lutar sempre a mesma guerra
o sonho de liberdade permanece imortal
6.6.2021
(Ilustração: Edvard Munch -Agonia)
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