11 de abr. de 2025

palavra perdida

 



diz o sábio que só sabe

que nada sabe

finge o poeta a dor sentida

e são ambos – filósofo e poeta –

dois fingidores da realidade

em busca do que há de mistério

entre o céu e a terra



todo o mistério que há na vida

numa palavra se encerra

mas essa palavra está perdida

nas cinzas do tempo e dos vulcões

e não há qualquer possibilidade

de que sábio ou poeta a encontrem



morrem ambos em derrisões e veleidade

– solitários e ignaros seres humanos –

como todos os demais seres humanos

que não são sábios nem poetas

não sonham sonhos profanos

nem têm ambições de estetas



só com o saber que nada sabe

só com o fingir da dor que sente

poderá a vida – o mistério total –

ser enfim vivida

pelo sábio e pelo poeta

num planeta onde não haja

nem o bem nem o mal



[será humano

demasiado humano

apenas o saber que nada se sabe

e sentir o verso de emoção sempre fingida]





12.1.2025

(Ilustração: Piet Mondrian - Composition with Red
Yellow and Blue: 1935-1942)

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