31 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 13.Pressa

 

(Paul Émile Becat)



Dispo-te em dois segundos

em louca ânsia de amar.

No entanto, correste mundos

e fundos, para achar

a mais linda lingerie

que - desculpe, eu não vi –

pudesse me agradar.





30 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 12.ÚItimo

 

(Frida Castelli) 


Enquanto no banho te lavas,

Penso, louco por foder-te:

Vieste, puta, como as escravas,

Mas não é assim que quero ver-te:

Se por qualquer dinheiro me davas,

Quero, sim, ser o último a comer-te.



29 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 11.Atriz

 

(Erich von Gotha)


Na cama-palco em que atuas

fazes-me tu mais feliz

quando tuas ancas nuas

abrem-se nesta disputa

entre teus encantos de atriz

e o nobre destino de puta.


28 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 10.Cilícios

 

(Suzanne Ballivet)




A ti me entrego em holocausto,

na chama que nasce de teu vício.

É teu corpo em transe um fausto

que compensa o meu suplício.

Não te nego e tu não me negas:

mesmo quando aperto teus cilícios,

sou eu a morrer em mil entregas.






27 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 09.Intimidade

 

Luc Lafnet (les jeux du plaisir) 




Quero a intimidade da carne

sem nenhum pudor.

Por isso, teu pequeno botão

molho com muito charme

até abri-lo na mais bela flor.


26 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 08.Tesouro

 


Serpieri: Druuna


Fechado o ânus como um cofre,

há somente uma chave para abri-lo:

por isso, para entrar, o pau sofre,

faz seu dono perder um quilo

e precisa agir com toda a perícia.

Mas depois que entra – que delícia!


25 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 07.União


 

Graveurs libertins du XVIIIe siecle: Bartolomeo Pineli-Belli, Belli Penzieri



Vem, tu dizes,

meu corpo é chama.

E então somos felizes 

na mesma cama.




24 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 06. Apelo

 


Apollonia Saintclair




A teu apelo,

não nego fogo:

chupo teu grelo,

colho teu gozo.




23 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 05.Sim!

 

(Desenho vintage: autoria não identificada)

 


Mordo-te

o seio.

Gritas

que o gozo

já veio.



22 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 04.Fogo

 

André Lambert - the cabinet of the solar plexus



Fogo

Quero-te chama,

mesmo que molhes

minha cama.

21 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 03.Dolência

 


André Lambert-Seuils empourprés



Silêncio no quarto:

depois que me chupas,

sinto-me farto.

20 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 02.Fruta

 

André Lambert-Danseuse a la Coupe de Fruits


Tu, quando acabas,

tem teu gozo o gosto

de jabuticabas.

18 de out. de 2025

POEMAS FESCENINOS: 01.Língua

 



No amor,

quem

tem

língua

não morre

à míngua.



15 de out. de 2025

MAIS E MELHORES LIVROS E UMAS POUCAS DECEPÇÕES


Ler é a mais fantástica experiência do ser humano. Mesmo que se tenha ido à Lua ou alcançado as estrelas, somente a leitura pode transportar-nos ao infinito e fazer-nos viver incontáveis vidas e suas aventuras. Se a natureza dotou o cérebro humano para algo essencial, esse algo é a imaginação. E ler é levar a imaginação a potências inimagináveis.

Com uma arma na mão, o homem é uma besta. Com um livro, torna-se verdadeiramente humano.

O primeiro livro que li espontâneamente (não contam os livros de alfabetização ou lidos na escola) foi uma biografia de Dom Bosco. Nunca mais o esqueci. Despertou em mim a paixão pela verdade, através de tantas mentiras que contaram sobre a vida desse padre. Seus poderes extra-sensoriais me levaram a estudar religiões. E a Biblia foi lida do Gênese ao Apocalipse, ainda muito jovem. E o estudo das religiões me levou ao caminho lógico de quem busca a verdade: o ateísmo.

Aos catorze, na formatura do antigo ginásio, ganhei de meu padrinho uma obra-prima e a primeira decepção com a censura: Os Lusíadas. A princípío estranhei a numeração das estrofes: havia uma lacuna. Mais tarde, já na Faculdade de Letras, descobri: os padres da editora católica haviam suprimido, simplesmente, todo o canto IX, o banquete das ninfas, o encontro com as deusas nuas do paraíso imaginado por Camões como recompensa aos navegadores pela grande aventura.

A partir dos estudos de literatura, o melhor livro quase sempre era o que havia acabado de ler. Assim, mergulhei nos poetas, nos contistas, nos romancistas. E quando a poesia parecia esgotar-se, Portugal abria o baú de Pessoa. E quando o romance parecia ter chegado ao ápice, surgia um Rosa. E quando o conto parecia estrebuchar-se, caía-me nas mãos um J. J. Veiga.

Ainda hoje é um pouco assim. Com o tempo, a diversificação trouxe-me os robôs de Asimov e os pesadelos marcianos de Bradbury. Durrel me fez mergulhar na Alexandria de um Quarteto que podia virar novela e não ter fim. Lawrence compensou as ninfas de Camões e a decepção da cena de entrega de Júlio Ribeiro. Miller desvendou o mistério e tornou normal o que era absurdo. Garcia Márquez abriu a cartola para os mágicos da América. E Galeano detonou o paraíso, para abrir veias que sangraram. E vieram tantos e tantos: Balzac le roi, Joyce the king, Cervantes el rey... Tantas eras, tantos momentos, tantas letras. Ah! os malditos, aqules que poucos leram e muitos comentaram! Também eles povoaram meus sonhos, minhas caminhadas, meus deslumbramentos.

Decepções? Poucas, na verdade. As maiores foram, sem dúvida, os chamados livros sagrados: a Bíblia e o Corão. Porque, mesmo os que tinham uma visão soturna da sociedade, mesmo os que se infiltravam na minha mente para tentar impor conservadorismos e quejandos, mesmos esses tiveram seu momento, abriram meus olhos. Para exemplificar uma decepção menor, o grande Saramago: fiquei pensando por que um ateu, como ele, se prestou a escrever uma bobagem como o Evangelho segundo Jesus Cristo? Queria o quê? Convencer-nos de que o Cristo é humano? Isso é dar lenha para a fogueira papista. Consegui, a duras penas, chegar à página cem. E aí empaquei. Joguei para o lado. Mas não dispenso outras tentativas com o português, não.

Enfim, ler de tudo, sempre. Porque ler é representar para nós mesmos todos os papéis que o imenso teatro da vida nos propõe. Não há, efetivamente, melhor função para nosso cérebro que viajar através dos mundos que povoam as páginas dos livros.



1.6.2007

(Ilustração: Adrien Jean Le Mayeur de Merprès - 1880 – 1958;  

Belgian painter who lived in Bali)


12 de out. de 2025

vento da montanha

 



quando o vento que vem da montanha

fala comigo

conta-me segredos de cidades desaparecidas

desvenda-me ravinas e voçorocas

inunda e fertiliza minha imaginação

com húmus despejados por cachoeiras escondidas

povoa meus ouvidos de cantos mágicos

da seriema e do uirapuru

traz sabores à minha boca

de frango com quiabo e angu

alumia meus olhos baços

com horizontes recortados

de morros que guardam os traços

de quinhentos anos de iniquidades



quando o vento que vem da montanha

fala comigo

traz lembranças de mel e lembranças de fel

momentos de dor e momentos de felicidades



mesmo assim

quando o vento que sopra da montanha

fala comigo

mata no meu peito todas as minhas saudades





9.2.2025

(Ilustração: escultura de Albert György)

9 de out. de 2025

Uma noite, um gato

 


– Enrodilhe-se e durma!

Disse ao gato.

Theo, o gato, enrodilhou-se e dormiu.

Entre as minhas pernas.

Sobre mim o silêncio da noite

– Até o ronronar do dia.



26.9.2025

(Ilustração: Darya Veretshagina - magic cat) 

6 de out. de 2025

surreal


se um dia eu desparecer

em São Paulo

não procurem meu corpo

no Rio Tietê

porque jamais me jogaria

nas águas fétidas

do Rio Tietê

e essa é a única realidade

que me permito compartilhar

com meus contemporâneos

 

se eu desaparecer

em São Paulo

não procurem meu corpo

num formigueiro qualquer

numa rua do Jabaquara

 

se eu um dia desaparecer em São Paulo

talvez – e esse talvez expressa

todas as dúvidas do mundo –

eu não esteja na verdade

flutuando em nuvens cumulus-nimbos

sentado numa cadeira de palhinha

ou balançando numa rede de dormir nordestina

– às gargalhadas

 

porque a essa altura da minha vida

o mais provável é que eu seja

apenas um anjo torto

um poeta maluco

inventado num verso sem pé nem cabeça

que eu recrio neste poema surreal

 

 

10.12.2024

(Ilustração: Patrice Coppée - fourmis)

3 de out. de 2025

sombras





na tarde quente

pela calçada

desfilam sombras

– somente sombras –



os corpos rijos

estão deitados

em suas tumbas

– só suas sombras –

passeiam lépidas

pela calçada

na tarde quente



as longas sombras

ao lusco-fusco

já quase noite

tarde morrendo



no claro-escuro

as sombras longas

passeiam leves

na tarde morna



os corpos duros

de ossos brancos

deixaram lá

no cemitério



caminham – sombras –

com asas ágeis

de alegres pássaros

no claro-escuro

da tarde fria



lépidas sombras

nos ares fluidas

dançam às vezes

trançando brisa

na noite morna



corpos de nada

apenas sombras

que deixam no ar

doces rabiscos

acres saudades

na noite quente



28.1.2024

(Ilustração: Mia Mäkilä)