20 de fev. de 2025

ateu renitente

 




às vezes penso que gostaria

de ter a fé dos iludidos

de rezar uma ave-maria

que atendesse meus pedidos



ser crente e pensar que deus

nos deu uma alma imortal

gostaria de rever os amigos meus

num céu de prazer total



choro ao pensar nisso no entanto

porque sou ateu renitente

e esse meu louco pranto

não passa de um repente



logo caio em mim mesmo

e se não sofro ainda mais

é que a mente vaga a esmo

em busca de alguns sinais



sinais de que exista vida além

mas só encontro a natureza

a me dizer ela também

que a vida se esvai com presteza



e que somente de matéria

é feita a vida que vivemos

e esta constatação é muito séria

- nada há depois que morremos





31.12.2023

(Ilustração: símbolo do ateísmo; origem desconhecida)

 

16 de fev. de 2025

falsa moeda

 




no fundo do copo

brilha a moeda

e é preciso beber

toda a amarga bebida

para chegar à moeda

e descobrir

que ela é falsa

- a moeda é a vida





10.12.2024

13 de fev. de 2025

faca em brasa

 



como uma faca em brasa cortando um naco de manteiga

escrevo meus versos

guardo para outros poetas a sutileza e a maciez de palavras doces

e quando os leio e penso que devia escrever assim

logo concluo que esse mundo em que vivo não permite

que amacie meus versos em concerto de piano e violino



prefiro os tambores rudes de troncos de baobás

crestados pelo fogo das savanas africanas



no couro da minha pele há palimpsestos de priscas eras

marcas de dentes de máquinas de servidão

somatizo o sonho inalcançável de igualdades desejadas

desdenho o fogo morto das fábricas de chocolate suíço

viajo em navios de piratas para afundar torpedeiros russos

transporto a água benta que não apaga as dores de hiroshima

colho na floresta amazônica o resto de bálsamo

que os caciques dos ianomami juraram

que limparia do mercúrio as águas dos seus rios



trafego em ruas e avenidas de nova iorque e paris

torcendo o escapamento de minha ferrari para dentro dos narizes

dos capitalistas que se ajoelham diante dos altares do consumismo



inutilmente



perpasso cada passo pela guerra de cada canto

pela fome de cada favela

pelo grito de cada feminicídio

pelo arrocho de cada preconceito

pela fé azeda de quem não confia na ciência



desenho em minha mente um garrote vil

para os garimpeiros

para os caçadores

para os madeireiros

para todos aqueles que cagam em nossos rios

para todos aqueles que poluem nossos ares

para todos aqueles que semeiam a dor da fome pelo mundo

para todos aqueles que batem os tambores da guerra



exorcizo cada ser humano que a peste da violência matou

carregando ombro a ombro com os povos do xingu

o tronco mágico para a dança ritual do quarup



a faca em brasa de meus versos corta a manteiga do desespero

de cada ser humano que o poço da desigualdade engole

e não encontra no fundo do prato qualquer possibilidade

de que um dia os meus dedos percorram a borda do copo de vinho

e o cristal cante um canto de esperança para humanidade



6.3.2024

(Ilustração: Hieronymus Bosch)







7 de fev. de 2025

eu poeta solitário

 





eu poeta solitário

não escrevo poemas de protesto

não escrevo poemas de amor

não escrevo poemas confessionais

- escrevo poemas



sei que sou andorinha

que não faz verão nenhum

porque não me ligo a [nem ligo para]

qualquer modernismo

nem qualquer classicismo

ou qualquer ismo



poeto-me a cada instante

o instante de poetar



não brigo com musas

nem as abraço ou bajulo

leve

livre

solto

solto meus pretensos poemas

para mim mesmo

[como desabafo]

e para quem os quiser ler



foco o meu tempo

no tempo de agora

não desprezo o passado

e até o visito constantemente

nem anseio por futuros que não terei



cumpro a sina de escrever

talvez o que nem todos consigam entender

não me importa que por moto próprio ou alheio

fique anônimo e desconhecido permaneça



não têm fortuna os meus versos

não têm pretensões os meus sonhos loucos

assino cada palavra que teclo na tela do computador

com o compromisso de não me vender



sim – sou de esquerda como qualquer anjo torto

minhas asas de ícaro não temem a queda

nem buscam sóis inalcançáveis

- o oceano da literatura é onde mergulho

e onde nado do jeito que posso

apenas o poeta solitário

a escrever nos poemas tortos

a torta filosofia que me dá na telha





11.11.2024

(Ilustração: foto da internet; autoria não identificada)



4 de fev. de 2025

Eternidade

 



Passam as horas,

os dias,

as semanas,

os meses,

os anos.

Passa o tempo – porque é de sua natureza passar

e deixar para trás nossas vidas que não se alongam

[é o que pensamos]



E por que passa o tempo?

Não passa apenas porque é de sua natureza passar:

o tempo passa porque é filho do movimento.

E tudo no universo se movimenta

– desde as partículas do átomo

dentro de tudo quanto existe

até as galáxias em expansão no infinito.



E só porque tudo,

absolutamente tudo,

se movimenta,

o tempo passa

e leva com ele nossa vida



Se o universo um dia

– por sortilégio de alguma força misteriosa –

detivesse as partículas do átomo

e o girar das estrelas

e a expansão das galáxias,

nós – os humanos – seríamos eternos.



Petrificados em nós mesmos,

mas eternos.






30.6.2026

(Ilustração: Salvador Dalí, Young Woman at a Window: 1925)



1 de fev. de 2025

espanto de viver

 




o espanto de viver se encerra

a sete palmos embaixo da terra

– depois não há – só lembrança

na mente de quem cultiva esperança



o pó do tempo cobre nomes e sobrenomes

– ficam palavras que não foram ditas

como verdades que são escritas

não no granito mas nas pedras-pomes



e a vida que era uma grande festa

– hoje lagarta e logo depois borboleta –

voa seu derradeiro voo sobre o mar e pela floresta

antes de espantar-se sob uma pedra preta



[ou ser sobre a tumba o vestígio de um nome – uma só letra]





10.1.2025

(Ilustração: Horace Vernet - Une tombe en terre d'Afrique)



30 de jan. de 2025

dois destinos

 


ao aguar no jardim as suas flores

deságua o jardineiro as suas dores

 

ao despejar um verso apenas na página branca

o poeta o seu ser mais profundo destranca

 

as flores – leva-as o vento um dia

o ser do poeta permanece na poesia

 

assim jardineiro e poeta cruzam um com o outro seu destino

o jardineiro – talvez feliz com o tal vento repentino

já o poeta – à poesia tem para sempre enlaçado o seu destino

 

 

25.11.2024

(Ilustração: Claude Monet - nenúfares)

26 de jan. de 2025

mandacaru

 


verde que te quero forte

estrela em gomos de espinhos

a flor delicada e branca

em contraste

ao verde que resiste

à chuva e ao sol

ao vento e ao mormaço da tarde

e ao sereno da noite



raízes no barranco

cerca viva que não cerca a morte

lenta a tua vida verde

lento o teu despertar

ao sol e à chuva



ao vento não vergas

branca e bela

tua flor cor de lua

brilha mais que a lua cheia

o teu verde verdeja o vento

que passa e sibila pela noite

no ar o perfume flutua



depois de morta pétala a pétala

tua flor já murcha pela manhã



morre a flor – tua vida continua

como sempre teu verde seco

como sempre tua altivez

ao sol e à chuva tu resistes

meu belo mandacaru

resistes tanto que eu quero

e só o que mais espero

ser um dia como tu




20.2.2023

(Ilustração: Adriano Santori - flor de mandacaru)



Ouça esse poema na voz do autor, ISAIAS EDSON SIDNEY, num destes endereços:

- no podcast do Spotfy:


- no You Tube:

23 de jan. de 2025

doce de leite

 




numa tarde nem fria nem quente

de pleno outono talvez

[mas pode ser tarde de verão

ou de qualquer outra estação]

nada penso que me apoquente

e quero apenas a levez

de algo que na minha língua se ajeite

como um gato num cesto de linho

como os dedos numa viola de pinho



o sabor mineiro do doce de leite





14.6.2024

(Ilustração: doce de leite - foto de Arnaldo Silva)

20 de jan. de 2025

desalento arretado




a vida é assim: de vez em quando

num susto de fim de tarde

numa lembrança maldita durante a noite

num abrir e fechar de olhos para a merda

vem

um surto

uma fossa

um desespero

o fundo do poço



aquele nó na garganta

aquele choro que não chega

o aperto no peito

um desalento arretado

e a vontade de jogar tudo para o alto



para subir de novo à superfície

para de novo a mente voltar ao normal

para a paranoia ir pra o raio que a parta

nada melhor do que ouvir um som no último volume

um tango argentino

um samba bem rasgado

um rock sem limites

um xaxado arrenegado

ou então

um clipe de johnny hooker




13.10.2024


17 de jan. de 2025

consciência

 


meus ídolos já morreram,

estão velhos ou estão morrendo

e isso bate direto no peito

porque percebo que não tem jeito:

- eu estou encanecendo!

 

caminho pelo quintal lentamente

para não tropeçar no gato que enreda entre minhas pernas:

não posso – a essa altura da vida – levar um tombo

[e todo e qualquer velho sabe por quê]

e é isso o que me aborrece – pensar antes de dar um passo

pensar antes de fazer qualquer besteira

 

muitos amigos da minha idade

estão morrendo

e isso mexe com meus instintos

e mexe com minha sanidade

- eu estou envelhecendo!

 

leio muito – leio de tudo

para manter a mente funcionando

e quando escrevo os meus textos

eu às vezes percebo que algumas palavras

que eu quero usar

demoram mais para chegar à memória

ou tenho que usar artifícios para encontrá-las

 

morrer é contingência da vida

só não é o susto que me dá o pensar na morte

se tive assim alguma sorte

de sobreviver ao tempo e ganhar sobrevida

tenho que cuidar do agora

e sonhar com o tempo que me resta

de tal forma que não vá antes

do que eu quero seja a minha hora

e deixar de alimentar qualquer ideia mais funesta


 

7.4.2024

(Ilustração: Gustave Caillebotte)

12 de jan. de 2025

concerto para flauta e orquestra

 





lavra o lábio à flauta em busca do som

e o vento que vem do âmago do músico

cria o alento do voo mágico

- o sonho se faz som

e o som sonha o suave pranto da lua



- a sala de concerto torna-se plenitude do espanto

ao voo elegante de sons de vento

mirificadamente enevolados em sons de sonhos

sonhos de vagas vidas veladas vagando

em busca da esperança que dança nas tranças bem trançadas

de destinos improváveis



ao som da flauta que os lábios assopram

a sombra da paz perpassa pelos anseios vívidos

de vidas que pulsam e flauteiam à sombra do vento



no silêncio da orquestra – o suspense de futuros

no suspense da plateia – o espanto do arrepio



quando tremem os lábios do flautista

à nota agudíssima que finaliza o concerto

– freme a plateia ao aplauso que desperta

para que o sonho do vento se concretize

– há esperança na noite em cada janela que se apaga



[plagio mais um poeta: o homem sonha a poesia nasce]




2.9.2024

(Ilustração: George Frederic Watts - Hope, 1897)


Ouça esse poema na voz do autor, ISAIAS EDSON SIDNEY, num destes canais:

- no You Tube:


- no podcast do Spotfy:


11 de jan. de 2025

alteridade

 




quero às vezes contemplar um lago sereno

quero às vezes navegar por um rio caudaloso

quero às vezes perder-me numa floresta tropical

quero às vezes flanar pelas ruas da grande cidade



isso é minha alma peregrina dentro de mim

(eu que não acredito em alma)

a pedir que me aventure por lugares que não conheço

a pedir que saia de minha casca de ovo – a minha casa –

e me liberte de mim mesmo pelos ares do tempo

pelos ares das estrelas ou pelos caminhos das montanhas etéreas

e me perca de vez nos escaninhos de um planeta inabitado

mesmo que esse planeta esteja girando a milhões de anos luz



mas vivo dentro de uma bola de gude e sou apenas

aquele que olha o tempo e sabe que ele só me faz sofrer





30.11.2023

(Ilustração: escultura de Anish Kapoor, Dismemberment)


8 de jan. de 2025

ailurofilia

 





encontrei afinal um amigo

que me fez mais humano

nunca briga comigo

mas não passa pano

nas bobagens que faço



quando tudo parece perdido

aperto-o num gostoso abraço

que é tudo que mais tenho querido

desse silencioso amigo

a quem sou muito grato

porque me fez pensar diferente

e respeitar cada ser vivente



esse amigo de fino trato

em silêncio – grande pensador

que nunca podia supor

e agora reafirmo este fato

– que encontrei muito amor

nos olhos claros de meu gato





3.1.2025

(Ilustração: Theo, foto do autor)





5 de jan. de 2025

águas que sobem

 





quando as águas sobem

levam tudo que os pobres não têm



será que um dia

as águas vão subir

e bater na bunda dos ricos



quando as águas subirem

e baterem na bunda dos ricos

e levarem uma pequena parte

daquilo que os ricos têm

o que será que os ricos vão fazer



quando as águas sobem e levam

tudo aquilo que os pobres têm

o que fazem os pobres

depois de sentar e chorar

todos nós sabemos



depois que as águas baixam

deixando ainda mais pobres os pobres

de quem elas – as águas – levaram tudo

os pobres fazem mutirões

recolhem donativos

reconstroem suas pobres casas

reconstroem seus pobres barracos

e esperam a próxima cheia

[não têm os pobres outra opção]



e os ricos – o que fazem os ricos

quando sentem que as águas

subiram e bateram em suas bundas

levando parte – pequena parte –

de tudo quanto possuíam

[coisa que – convenhamos –

é muito difícil de acontecer]



ah os ricos! – os ricos tiram

seus traseiros gordos

das cadeiras de chefe

das poltronas de veludo

pegam seus iates gordos

navegam pelas águas gordas

com sorrisos de escárnio

bebericam uísque doze anos

dançam

festejam

e pescam dourados engordados

pelos restos que vieram

das cheias de todos os pobres

[não têm os ricos outra opção]



8.11.2024

(Ilustração: Cássia Brizolla - a enchente na Vila Pantanal)



Ouça este poema na voz do autor, Isaias Edson Sidney, nestes endereços:

- no You Tube:


- no podcast do Spotfy:






30 de dez. de 2024

subvida

 


não sei se vivo

ou sobrevivo

na dúvida

dessa subvida

dividida

em poucas subidas

e muitas descidas

só sei que divido

a minha vida

em antes da dívida

e depois da dívida

quando sem dúvida

há muito mais tempo de vida

e de subvida

que antes da vida sem dívida

dessa minha sobrevida

mais do que dividida

e agora sem subida

só descida



24.11.2023

(Ilustração: Salvador Dalí - "The Epitome Of Human Sadness")




27 de dez. de 2024

sonho do poeta

 







tempo

vento

vida / morte

desdita / sorte

memória

história

caminhos

tudo quanto faz parte da minha poesia

muitos mais enredos que tempo e vento

que vida e morte

que história e memória



- os caminhos percorridos

os caminhos desejados

os passos nas nuvens

as nuvens na cabeça

e a cabeça nas nuvens

o poeta é isso e tudo mais



o poeta finge que mente o que deveras sente

[ou mais ou menos isso]

já o disse o Poeta – esse sim o bardo das palavras em liberdade



padece sempre o poeta – eu – talvez

da velha sentença perdida no tempo

e sonha que vai um dia despejar seus versos

em vasos de ouro de salões iluminados



que sonhe o poeta – eu – com os talvezes que não o empolgam

com a música que nunca ouviu

com os livros que nunca leu

com os caminhos que nunca percorreu



sábio será se um dia

mais uma vez

talvez

eu – o poeta? – partir para o sonho absoluto

e deixar no rabo do cometa

um dístico sem sentido

uma palavra torta

um verso mal escandido

para desespero de outro poeta – eu? você quem sabe? – num futuro remoto

sentado à beira do abismo

lendo e relendo até lhe arderem as pupilas

os versos e reversos de um poeta caolho

navegante

errante

de barcaças lentas sóbolos rios secos

da desesperança



17.10.2023

(Ilustração: Carl Spitzweg - O Pobre Poeta, 1839)



24 de dez. de 2024

som de vida





busco um som perdido

na minha memória

em cafundós de sonhos

e invenções de história



um som de estranhos estalidos

de leves pisadas em tecidos

das teias entre galhos enegrecidos



um som que pode ser um grito

um som que pode ser um apito

ou apenas o leve ondular do vento

que não me traz nenhum alento

talvez apenas um pequeno agito

da flor no tronco do mandacaru

quando brilha no céu de agosto

a estrela maior do cinturão do guerreiro

e a cobra d’água se esconde no buraco do tatu



esse som que me traz desgosto

esse som que me angustia

no meu mergulho no passado

não está na noite nem no dia

está no peito entalado

como um quarteto de cordas desafinadas

a tocar sonatas num teatro vazio

no mesmo palco de luzes apagadas

onde minha mente tece melodramas

de angústias escondidas

em saudades atreladas

ao vento da noite que não dorme



sonho na madrugada insone

que esse som que me consome

não seja apenas uma quimera

em minha mente surgida

como uma teia mágica urdida

para que durem aqui na terra

os meus tão poucos dias de vida





16.6.2024

(Ilustração: Vincent van Gogh - Le Jardin de Daubigny, 1890)

21 de dez. de 2024

Sobre a solidão

 



Drummond fala da solidão do boi no campo.

Eu falo da solidão do gato no telhado.

Eu falo também da solidão do poeta na madrugada.

E lembro tantas outras solidões

que um poema seria pouco para todas elas desfiar.



Mas há uma solidão maior:

a solidão de um ser humano perdido na multidão.



O poço profundo a seus pés,

o horizonte perdido no fundo de suas retinas,

o desespero inaudito no esgar de seus lábios,

a lágrima que escorre pelo peito e pelas pernas

até chegar ao chão de estrelas mortas das ruas podres,

o espanto esburacando o fundo do peito.



E a seu redor o silêncio – o silêncio de milhões de vozes

– aos gritos e gemidos.





29.11.2023

(Ilustração: Adam-Frans Van der Meulen: Marche du Roy 
accompagné de ses gardes passant sur le Pont Neuf et allant au Palais)





18 de dez. de 2024

saudade amarga

 




do jeito que andam minhas emoções

– todas – absolutamente todas –

à flor da pele

que se assistir a um show do roberto carlos

acabarei chorando

[e olhe que não gosto nem pouco dele]

mas o meloso de qualquer melodia

ou uma cena romântica na televisão

me trazem lágrimas aos olhos

e não sei se isso é fruto da idade

– que me apavora –

ou da saudade amarga

que a meu peito a todo instante aflora



9.12.2024

(Ilustração: Claude Monet)