3 de abr. de 2009

QUANDO É SER IGUAL




(Raúl Villalba - winds)


Nada como ser mulato, cafuzo ou mameluco,

ser índio e indiano,

ter nas veias o sangue de japonês misturado ao alemão;

ter olhos azuis e pele negra;

ser negro, branco, amarelo ou cor de rosa.

Nada como ser branco de olho puxado

ou amarelo de olho redondo.

Não pertencer a nenhuma tribo

e ter no peito o som de todos os povos.

Não ser xiita, moabita ou judeu.

Não ter por que jogar bomba

em quem não seja como eu.

Ser tudo e ser todos.

Cara pálida em terra de viking,

usar cocar no Coliseu.

Aborígine na guarda real

das falsas majestades em todos os palácios

de Europa, França ou Bahia.

Não precisar erguer altares, nem templos,

nem catedrais nem sinagogas.

Dançar livre e solto ao som do vento

sem precisar levantar a bunda para um deus qualquer.

Nada como ser mulato em terra de branquelo

ou ser branquelo em Pequim ou Bombaim.

Não pertencer a nenhuma etnia e ter todas elas

rolando nas veias com meu sangue bem vermelho.

Não obedecer a príncipes, reis ou aiatolás,

não beijar a mão de papas, pastores ou rabinos,

todos eles inúteis na minha inocente ausência de fé.

Ser heterohomobitrissexual e amar a liberdade

de dizer desaforos nas fuças dos poderosos.

Ser catalão e beijar cada espanhol,

entrar de cabeça erguida em Israel,

mesmo sendo palestino.

Andar nu como índio no parlamento europeu,

usar gravata e paletó em terra de pigmeu,

colocar no pulso um relógio suíço

e esquecer as horas numa piroga

em pleno rio Amazonas. Ser caiçara e esquimó.

E, sobretudo, dançar livre e solto ao som do vento

em festas de casamentos de todas as raças,

andar por ruas e vielas e becos e praças

de cada taba, aldeia ou cidade

subir todas as montanhas e descer todos os vales,

caminhar sobre as areias de todas as praias e desertos

e encontrar em cada pegada do caminho

a mesma marca do mesmo pé do mesmo homem.

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