que todos brinquemos
no grande terreiro
façamos quizomba
soltemos balão
joguemos a bomba
da festa de são joão
riamos
cantemos
choremos
rimemos
façamos a festa
a festa da raça
no grande terreiro
à luz do cruzeiro
riamos e cantemos
ao sol escaldante
pulemos
dancemos
pulando e cantando
te convida à dança
o povo que lança
o grito da festa
embora gigante
moleque ainda és
tu bates os pés
no ritmo faceiro
fazendo com todos
no grande terreiro
a festa constante
da gente inconstante
pulemos
cantemos
em grandes terreiros
o orgulho que temos
de ser brasileiros
e todos os versos que acima escrevi
são versos de sonho, são versos de louco
à pátria que sonho
não à pátria que vivo
são versos que piram
diante do dia
que mostra dentes podres
em bocas mortas
são versos de alienante loucura
redondilhos de sorte que não cantam a morte
rimas de ouro que buscam o tesouro
há muito espoliado há muito escondido
no fundo de malditas caravelas
(ainda bem que muitas delas
perdidas estão no fundo dos mares:
quem como louco roubou,
também tombou, também tombou)
e o sino de bronze convida a rezar
aos crentes cobertos de noites cristãs
e a igreja barroca escancara como um ventre de puta
ao peregrino povo que canta que dança que pula que reza
o tesouro roubado do ventre da terra
do sangue dos homens
e do veio de ouro como da veia dos homens
somente restou o cadáver mumificado
da morta esperança
(por isso, aqui me calo)
11.6.99
(Ilustração: Tarsila do Amaral – feira)
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