(Amy Race)
De repente, assim, no meio da tarde,
Uma urgência rara,
Uma vontade louca
De sentar e escrever –
Não importa quão longo ou tão curto –
Um simples poema.
Ah! Um poema, um poema
Que não fale de amor ou saudade,
Que não cante pátria ou valores humanitários,
Apenas um poema de doce aroma repleto,
Alienado do mundo como tantos outros
Que leio por aí,
Apenas um poema que grite para mim
Da grande vontade de traçar alguns versos
Bem soltos e livres na página em branco
De papel ou do computador,
Apenas um poema que rasgue o meu peito
Em formato de bicho ou de flor,
Sem nenhuma cerimônia, sem nenhum respeito,
Mordendo e colhendo aqui e ali, uma rima justa
Ou um som mais rarefeito.
No ar da tarde que arde lá fora,
Não importa que tenha tal gosto
De comigo ficar ou de ir embora,
Basta que sejam versos bem livres
De teias e redes, estonteante beija-flor
Absorvido na faina de sobreviver mais um pouco,
Meu doceamargo poema de primavera,
Sem eira nem beira por longes telhados
Trepado aqui e ali, buscando apenas voar.
Doce pássaro alheio ao burburinho que vem
Da rua e dos ares em roncos de motores,
Um simples poema que cante somente
O ainda estar vivo e poder versejar.
(Terça-feira, 15 de outubro de 2002)
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