invejava-lhe apolo o esplendor das faces
os lábios rubros e perfeitos
o nariz reto de férteis terras gregas
invejava-lhe vênus a redondez calipígia
as colunas macias e fortes a sustentar
tais perfeições no olimpo moldadas
invejava-lhe priapo o aríete sempre pronto
para batalhas necessárias ou possíveis
com ternura e força e sem espanto
era tudo isso de beleza e força
para do imperador apenas o desfrute total
em troca de ouro e de mais que tudo
em troca do escárnio a inimigos
e do desfile impune a qualquer ameaça
não era a sombra atrás do trono
era o motivo mesmo de toda a grandeza
que aos súditos mostrava o seu senhor
um dia porém à corte chegou
um pobre e maltrapilho poeta
já nos anos entrado nem tão belo
nem tão poderoso nem tão de encantos
pudesse do seu físico viver ou morrer
tinha apenas como trunfo a lira
uma lira de mais poder que qualquer reino
que pudesse sobre a terra existir
deixava feridos os corações ao entristecer
alegrava a vida ao cantar o prazer
enlevava os espíritos aos deuses
quando num canto fazia aparecer
o olimpo todo num só verso num só acorde
e o jovem belo como os deuses
ao vate não resistiu e a ele seus encantos todos
entregou como oferenda de vida e morte
em promessas divinas de eternos mistérios
chora hoje o imperador em seu túmulo
todos os dias o amargo arrependimento
de tê-lo um dia tanto e tanto amado
a ponto de também tê-lo assassinado
sua dor é tanta e tanto o pranto derramado
que todo o império em décadas conquistado
virou terra de ninguém hoje aos pés ajoelhado
de bárbaros e monstros do olimpo enviados
4.4.2019
(Ilustração: Antinoo - museu do Louvre
- foto de autor não identificado)
Você pode ouvir esse poema, na voz do autor, neste endereço de podcast:
Gostei muito! Parabéns
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