à noite todos os gatos são pardos
à noite todos os poetas são loucos
ocultam-se nas sombras da lua
as manchas dos bichos e as tristezas dos poetas
não há facilidades no caminhar entre as pedras
os ruídos dos passos ecoam como em cavernas
onde os estranhos se estranham e se entranham
enredados nos mesmos precipícios
enlaçados nos mesmos tormentos
almas etéreas em lumes de vulcão
negros anseios correndo artérias
suspiram à noite os amantes ocultos e proibidos
desenterram-se arrepios de longas solidões
dançam as sombras ao som de noturnos de chopin
estremece o arvoredo aos arroubos nupciais das corujas
há arremedos de desejos
sobre lençóis amarfanhados
molas que tremem vertigens
arrebóis que não se cumprem
os loucos olham para a lua e não esperam redenção
os ratos esburacam tocas nos jardins de roseirais
espalham-se as sementes levadas pela brisa amena
homens e gatos enregelam nos olhos a mesma solidão
fecha-se a cortina
a luz apenas se cobre
o sorriso entorta a boca
a cidade apodrece e dorme
15.6.2019
(Ilustração: Edvard Munch -vampire-1895)
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