10 de jul. de 2019

noturno número 13







à noite todos os gatos são pardos

à noite todos os poetas são loucos

ocultam-se nas sombras da lua

as manchas dos bichos e as tristezas dos poetas

não há facilidades no caminhar entre as pedras

os ruídos dos passos ecoam como em cavernas

onde os estranhos se estranham e se entranham

enredados nos mesmos precipícios

enlaçados nos mesmos tormentos

almas etéreas em lumes de vulcão

negros anseios correndo artérias

suspiram à noite os amantes ocultos e proibidos

desenterram-se arrepios de longas solidões

dançam as sombras ao som de noturnos de chopin

estremece o arvoredo aos arroubos nupciais das corujas

há arremedos de desejos

sobre lençóis amarfanhados

molas que tremem vertigens

arrebóis que não se cumprem

os loucos olham para a lua e não esperam redenção

os ratos esburacam tocas nos jardins de roseirais

espalham-se as sementes levadas pela brisa amena

homens e gatos enregelam nos olhos a mesma solidão

fecha-se a cortina

a luz apenas se cobre

o sorriso entorta a boca

a cidade apodrece e dorme 






15.6.2019 

(Ilustração: Edvard Munch -vampire-1895)



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