24 de jul. de 2019

verso insone





há um verso dentro de mim que deseja virar poema

e quando o poema nasce o verso vira vento

por ter cumprido a pena de ser fonte

que traz a vida ao pensamento esse poema

em lampejos e desejos e anseios permutáveis

o infinito em pontos e vírgulas transtornado

o tufão em brisa enfim mitigado

o sonho sabe a sonho e sabe a flor

na areia do meu deserto o verso vira grão sem destino

e o cheiro de terra molhada encharca cada sílaba

sente-se o passo do destino a plantar cruzes pelo caminho

e tudo o que obtém é o espanto das estrelas

que continuam brilhando embora o dia ofusque a retina

mas tudo quanto se passa no seio da selva

salva-se ao lento perpassar dos ventos da noite

o verso inútil que pulsa ainda dentro de mim

entorna em lágrimas um doce canto

há esperança nos ares cortados com asas dos pássaros

e há depósitos vivos de amores mortos

dentro de poemas que nascem tortos

de um verso que não devia ter obtido a cidadania

choremos todos por essa desastrosa harmonia

que a terra aos olhos mortos de dinossauros

ressurja ao acalanto do último orgasmo dos amantes

na noite inglória de poemas que nascem tortos

de um versovento ao desalento da minha poesia

mais estranhas as palavras agora do que antes

enquanto o verso se enrola nas nuvens da manhã fria

à branca luz irradiada dos ossos dos amantes mortos





27.5.2019

(Ilustração:Theodore Gericault)

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