escondida no fundo da mina
pranteia a liberdade só ainda encontrada
na dobra do manto do santo barroco
de uma igreja em ruína
nunca foi de mão beijada
que por um pouco de fé desse o troco
toda essa parentada escravizada
em paga da liberdade
lá nas minas o coração da terra
o mineiro como um santo desterra
sem perdão para o santo da mantiqueira
transporta no lombo a serra
deixa como buraco o olho gordo da freira
sombreia o manto do santo com bordados
de ouro sujo e dente podre
ri-se o pobre
canta o nobre
na boca o som da bateia e do cobre
bocas de minas
bocas de ruínas
pranteia a liberdade a sua sina
santo barroco tem manto dourado
pobre mineiro tem santo dobrado
mete a picareta no veio velho
encontra bauxita e bendiz o relho
canta o padre na procissão do santo morto
reza a beata na beira do rio
sopra a morte o barco ao porto
o negro escapulido e fugidio
come e bebe oferendas na encruzilhada
traz a chuva uma nova tromba d’água
dá pra ver a mina toda inundada
não dá pra sentir dos mortos toda a mágoa
pranteia ainda a liberdade
esquecida entidade
lá no fundo de tantas minas de tantas sinas
de falso ouro que borda o manto de tanto santo
das igrejas de taipa e pau – de minas –
hoje apenas tristíssimas ruínas
12.2.2020
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