o mar revolto revolta meu cérebro
memórias de águas e de algas
maremoto de mares mortos
mortos os mares e as águas-marinhas
ancestrais de dinossauros
os líquens líquidos em águas revoltas
calor de vulcões e frios de geleiras
afrouxados os arrimos do vento
bate a onda sobre a pedra
quebra o mar dentro de mim
forças de sinfonias de pássaros
as asas tortas pelas praias azuis
tantos mundos a conquistar
tantas conquistas sem finalidade
bate o barco no iceberg
quebra o gelo para o coquetel de luxo
dança o mendigo na praça podre
somos o mar e seus marulhos
a quebrar em sombras de passados indistintos
solfejam sopranos a ária perdida
na areia o grão explode em hiroshimas
resta o relho nas costas do ex-escravo
resta o abandono de todos os governos
sobre o pobre o mesmo primeiro dia
de adão expulso do paraíso
e resta apenas o verso insolúvel
nas águas mortas dos mortos de fome
na conta nunca paga da miséria social
30.8.2020
(Ilustração: Cândido Portinari -Retirantes. 1944)
Nenhum comentário:
Postar um comentário