19 de ago. de 2021

ária perdida

 



o mar revolto revolta meu cérebro

memórias de águas e de algas

maremoto de mares mortos

mortos os mares e as águas-marinhas

ancestrais de dinossauros

os líquens líquidos em águas revoltas

calor de vulcões e frios de geleiras

afrouxados os arrimos do vento

bate a onda sobre a pedra

quebra o mar dentro de mim

forças de sinfonias de pássaros

as asas tortas pelas praias azuis

tantos mundos a conquistar

tantas conquistas sem finalidade

bate o barco no iceberg

quebra o gelo para o coquetel de luxo

dança o mendigo na praça podre

somos o mar e seus marulhos

a quebrar em sombras de passados indistintos

solfejam sopranos a ária perdida

na areia o grão explode em hiroshimas

resta o relho nas costas do ex-escravo

resta o abandono de todos os governos

sobre o pobre o mesmo primeiro dia

de adão expulso do paraíso

e resta apenas o verso insolúvel

nas águas mortas dos mortos de fome

na conta nunca paga da miséria social

 

30.8.2020

(Ilustração: Cândido Portinari -Retirantes. 1944)


 

 

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