18 de out. de 2021

delírios

 



refletidos nos vários espelhos

os corpos contorcem-se

em meneios e floreios

cipoados em lianas e ventosas os amantes

esplendem e explodem

na correnteza dos rios

encachoeirados

que descem a montanha

pedras e troncos se misturam em redemoinhos

os olhos

inúteis remansos

logo engolidos pelo turbilhão de águas e ventos de fogo

os amantes

destroem-se a si mesmos

na antropofagia de se comerem

como peixes elétricos nos raios de luz

nos retorcidos troncos

pernas e seios e coxas e ventres em tempestades

até que o rio nebuloso engula

enfim

o espasmo final dos amantes

os corpos

em mil estilhaços dos espelhos partidos

em mil pedaços no espasmo

da pequena morte

os corpos

em delírios refletidos

contorcidos

exaustos da tempestade

perdidos

em si mesmos

em seus próprios cipoais

de amor

e tédio



26.3.2021

(Ilustração: Alona Kovalska - orgasm time - 2018)

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