quando se esvazia o cérebro de novas ideias
e de quaisquer inspirações tresloucadas
o que resta para o pobre pensamento
é escarafunchar os versos que surgem
como nuvens de gafanhotos em plena estiagem
versos nem sempre pejados de poesia
mas que refletem estados de consciência
muito além de quaisquer provocações externas
enredados versos de palavras às vezes ocas
às vezes sonhadas em estados de completa lucidez
como se fosse a lucidez o estado natural
do cérebro e dos pensamentos do poeta
nas noites mal dormidas de total solidão
quando só o que resta é o cérebro vazio
e a sensação estúpida de cão latindo dentro do peito
no lugar do coração há muito desqualificado pela realidade
e mais preocupado com inspirações tão loucas
que ultrapassam quaisquer quadros surrealistas
jamais gestados pela mente também maluca de salvador dalí
esquecido esse coração sem eira nem beira que
é apenas uma bomba de sangue para irrigar o cérebro
e manter vivas as demais células e órgãos do corpo podre
enquanto o vazio de ideias incomoda o poeta insone
30.5.2021
(Ilustração: Salvador Dalí)