20 de mar. de 2022

mata atlântica





de repente eu quero

a quietude da mata atlântica

a quietude feita de trinos e trinados

e zumbidos e assobios da fauna

uma sonata ao piano – de quem?

não importa – talvez a folha que caia

talvez a chuva que se espraia

o vento que não dá trégua

o passo lento da jaguatirica

[não esperava o susto da égua]

o rastro do tapir no brejo de lírios brancos

trilhas de avencas e samambaias

riachos e rios a cavar barrancos

[o tropel desconhecido que anuncia – o quê?]

o susto da onça e a corrida do veado

o silêncio quebrado pelo que não se vê

dos macacos o grito do bando assustado

lá em cima da montanha azul

o traço do tupi e do tupinambá

a flecha do guarani

[e lá embaixo nas praias do sul

rezas de padres com suas cruzes

botas de couro pisando cobras e lagartos]

e o grito do bem-te-vi

bem te vi

bem te vi

bem te vi

[na mata espessa o berro – ouro!]

no tronco do pau-brasil apenas o tesouro

de uma terra que não vivi




13.12.2021

(Ilustração: Argina Seixas - Painel Mata atlântica, Serra dos órgãos, Guapimirim, RJ)


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