de repente eu quero
a quietude da mata atlântica
a quietude feita de trinos e trinados
e zumbidos e assobios da fauna
uma sonata ao piano – de quem?
não importa – talvez a folha que caia
talvez a chuva que se espraia
o vento que não dá trégua
o passo lento da jaguatirica
[não esperava o susto da égua]
o rastro do tapir no brejo de lírios brancos
trilhas de avencas e samambaias
riachos e rios a cavar barrancos
[o tropel desconhecido que anuncia – o quê?]
o susto da onça e a corrida do veado
o silêncio quebrado pelo que não se vê
dos macacos o grito do bando assustado
lá em cima da montanha azul
o traço do tupi e do tupinambá
a flecha do guarani
[e lá embaixo nas praias do sul
rezas de padres com suas cruzes
botas de couro pisando cobras e lagartos]
e o grito do bem-te-vi
bem te vi
bem te vi
bem te vi
[na mata espessa o berro – ouro!]
no tronco do pau-brasil apenas o tesouro
de uma terra que não vivi
13.12.2021
(Ilustração: Argina Seixas - Painel Mata atlântica, Serra dos órgãos, Guapimirim, RJ)
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