23 de mar. de 2022

mater gloriosa

 




venho parindo poemas pela vida afora

- mãe zelosa de suas crias –

não jogo nada fora muito embora

possam ser julgados – muitos deles –

como filhos bastardos e eu – puta –



agasalho todos eles

e prossigo como pai na mesma luta

- andrógino poeta –

que não se importa

de não ser esteta

de ter às vezes a esperança torta

na bondade alheia

de aceitar como bela criança

aquela que nasce um pouco feia



se pari tantos garotos-garotas-poemas

corujo-os e corujo-as assim – negros ou pardos

loiros ou cafuzos – rio e choro com seus problemas

descubro brilhos de estrelas em seus olhos tardos

quando a fórceps nascem de minha mente

se os pari é porque tenho o privilégio da criatividade

ainda que sopre o vento e não traga a semente

que lhes adorne o estro com alguma verdade




3.7.2021

(Ilustração: Samuel F.B. Morse - Gallery of the Louvre, 1831–1833)

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