como um gato velho no canto escuro da sala curto minha solidão
livros
música
meu corpo moldado à rede no quarto quase vazio
as paredes nuas
a televisão desligada
e a mente divagando pelas ondas do rádio e pelas páginas do livro
sem mágoas ou pensamentos que não sejam meu momento ali
presente em carne e osso no instante parado no ar
o tempo ausente
a vida exterior ausente
só eu e meu divagar profundo comigo mesmo
o sangue correndo nas veias impulsionado por um coração de esperança nutrido
o ar nos pulmões já sem qualquer vestígio dos malditos anos de fumo
talvez um pouco de dor aqui ou ali
e isso faz parte do fardo dos anos nas costas
nada que perturbe esse isolamento entre bilhões de pessoas
nada que perturbe o lento e constante passar de letras ante meus olhos
e o profundo sentimento do mundo que está lá fora
sem que eu esteja nesse mundo como folha morta
apenas solitário sem causa
apenas um gato a ronronar na rede respirando o resto de vida que tenho para viver
30.1.2022
(Ilustração: Jean-Baptiste Debret - 1827)
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