rio que corre para um mar que não existe
escorre entre os dedos – os nossos dedos – o tempo
segurá-lo por apenas um milésimo de segundo – sonho ou pesadelo
não o vemos
não o cheiramos
não o sentimos
não lhe conhecemos o sabor
e sua melodia não tem instrumento que a toque
assim vaza por entre os dedos esquálidos
por entre pupilas assustadas
por entre suspiros alongados
mata-nos e por ele morremos
mata-nos e por ele vivemos
escraviza-nos embora pensemos
que dele sejamos os senhores
não há fuga quando ele mesmo se nos foge
não há morte quando ele mesmo nos mata
apenas ponte
apenas passagem
do nada para lugar algum
somos nós mesmos o que ele quer que sejamos
nada há que nos segure dentro dele
e de dentro dele não podemos escapar jamais
12.2.2021
(Ilustração: Salvador Dalí)
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