22 de mai. de 2022

mistérios do tempo

 




rio que corre para um mar que não existe

escorre entre os dedos – os nossos dedos – o tempo

segurá-lo por apenas um milésimo de segundo – sonho ou pesadelo

não o vemos

não o cheiramos

não o sentimos

não lhe conhecemos o sabor

e sua melodia não tem instrumento que a toque

assim vaza por entre os dedos esquálidos

por entre pupilas assustadas

por entre suspiros alongados

mata-nos e por ele morremos

mata-nos e por ele vivemos

escraviza-nos embora pensemos

que dele sejamos os senhores

não há fuga quando ele mesmo se nos foge

não há morte quando ele mesmo nos mata

apenas ponte

apenas passagem

do nada para lugar algum

somos nós mesmos o que ele quer que sejamos

nada há que nos segure dentro dele

e de dentro dele não podemos escapar jamais



12.2.2021

(Ilustração: Salvador Dalí)

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