não tomei coca-cola nas asas da panair
os vermes verdes derreteram suas aeronaves
muito antes de eu menino me tornar apto a sonhar
sobre as águas do atlântico
- nas asas da panair
talvez um dia no meu sonho
agora tão batido pelas asas do vento
veja eu numa tarde de primavera
entre cumulus-nimbos e horizontes perdidos
o sorriso aberto de uma aeromoça
- nas asas da panair
o espaço entre terra e céu
ocupa o pequeno avião sobre ouro preto
o sorriso do meu amigo ao manche curvando a aeronave
para o meu espanto diante da joia barroca
me lembra os tempos que não vivi
- nas asas da panair
o piloto pilota estrelas que ele apenas vislumbrava
nos céus de minas nas noites sem lua
o meu sonho pousa agora sobre o edredon
sob o qual ainda penso e sonho
como se estivesse onde nunca estive
- nas asas da panair
meus desencantos e cantos decantados
por outros voos em outras eras mais doloridas
povoam meus pensamentos de etílicos sonhos
porque sei que só em sonhos me verei de novo
num pouso que não arremeteu
- nas asas da panair
23.10.2021
(Ilustração: Lockheed Constellation da Panair do Brasil, s.d.)
Você pode ouvir esse poema, na voz do autor, Isaias Edson Sidney, num dos seguintes endereços:
Nenhum comentário:
Postar um comentário