6 de jun. de 2022

nas asas da panair

 





não tomei coca-cola nas asas da panair

os vermes verdes derreteram suas aeronaves

muito antes de eu menino me tornar apto a sonhar

sobre as águas do atlântico

- nas asas da panair



talvez um dia no meu sonho

agora tão batido pelas asas do vento

veja eu numa tarde de primavera

entre cumulus-nimbos e horizontes perdidos

o sorriso aberto de uma aeromoça

- nas asas da panair



o espaço entre terra e céu

ocupa o pequeno avião sobre ouro preto

o sorriso do meu amigo ao manche curvando a aeronave

para o meu espanto diante da joia barroca

me lembra os tempos que não vivi

- nas asas da panair



o piloto pilota estrelas que ele apenas vislumbrava

nos céus de minas nas noites sem lua

o meu sonho pousa agora sobre o edredon

sob o qual ainda penso e sonho

como se estivesse onde nunca estive

- nas asas da panair



meus desencantos e cantos decantados

por outros voos em outras eras mais doloridas

povoam meus pensamentos de etílicos sonhos

porque sei que só em sonhos me verei de novo

num pouso que não arremeteu

- nas asas da panair




23.10.2021

(Ilustração: Lockheed Constellation da Panair do Brasil, s.d.)


Você pode ouvir esse poema, na voz do autor, Isaias Edson Sidney, num dos seguintes endereços:


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