no sábado à noite o mendigo toca a campainha
e pede um pano para aquecer o sono
no sábado à noite a música que toca no rádio
não adormece o poeta saudoso da lua na montanha
no sábado à noite há poeira de estrelas
no caminho do bêbado de volta ao lar
no sábado à noite o vento que sopra do mar
traz a chuva torrencial para o planalto de piratininga
no sábado à noite há medo de morrer
no hospital de campanha no centro da cidade
no sábado à noite há planetas enlouquecidos
fugindo do buraco negro no fundo da via láctea
no sábado à noite a marcha fúnebre de mahler
alegra os corações das prostitutas da praça da república
no sábado à noite há comoções na telinha da televisão
quando o bandido da novela tenta matar o protagonista
no sábado à noite a menina menstrua pela primeira vez
enquanto a mãe deita e rola na cama de diamantes do seu homem
no sábado à noite ouvem-se canções de grilos selvagens
fugindo da mata atlântica que está pegando fogo
no sábado à noite o índio solitário canta uma canção
na taba sagrada de seus antepassados assassinados
no sábado à noite eu peço apenas um beijo arredondado
para salvar a semana que só trouxe notícias ruins
no sábado à noite ninguém se mata porque ainda é sábado
e o domingo promete sol e praia e churrasco malpassado
17.4.2021
(Ilustração: Francisco de Goya - woman with her clothes blowing in th wind)
(Ouça este poema, na voz do autor, no seguinte link de podcast:
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