9 de jun. de 2022

nas asas de um paulistinha

 




quando estou assim triste

triste de dar dó

porque sozinho numa tarde de outono sem sol

triste como passarinho sem alpiste

peso na gaiola

penso em sair por aí e achar o caminho que me leve

como folha ao vento

para a pasárgada de bandeira

não sei se lá teria a mulher que eu quero

talvez ela também – essa mulher de minhas fantasias –

esteja por aí à toa procurando sua pasárgada

ou na cama do homem que lhe quer

ou do homem que ela quer

sem saber que seria eu esse homem – talvez apenas um idiota

nefelibata sem nuvem

fugitivo de mim mesmo numa pintura de van gogh

e porque estou assim triste

triste como sabiá na palmeira

canto um pouco a minha solidão

com voz rouca de cantor argentino

acompanhado por um quinteto de piazzolla

mas sou muito desafinado

desafinado como a minha tristeza

nesta tarde sem sol em pleno outono

numa tarde que não é quente nem fria

e o frio que sinto vem de dentro de minha solidão

então quero ir para minas e drummond não há mais

fico no meio do caminho de todas as vidas

perdido entre o meu inferno e o paraíso de bilac

sem encontrar nem virgílio nem beatriz

e porque estou triste

triste de dar nó em pingo d’água

levo meu pensamento para o passado perdido

num plenilúnio de maio em montanhas de minas

e choro mais uma vez um amigo querido

que viaja há tempos para sua pasárgada

nas asas de um paulistinha

de que eu devia ser o co-piloto





30.3.2021

(Na foto, de auor não identificado: Vitório Pereira Resende)

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