17 de mar. de 2023

almas brancas

 




num dia qualquer de janeiro de dois mil e vinte e três

na cidade de memphis do grande irmão do norte

encontraram-se na noite seis negros – sim eram seis

cinco deles tinham a alma branca e nos olhos a morte

policiais uniformizados com vestes de brancos supremacistas

mas não eram esses pretos de forma alguma racistas

apenas tinham a alma branca muito branca – branca como a neve

e nesse encontro muito breve

bateram muito no outro negro cuja alma era a alma comum

de todo negro e de todo branco que vive nesta terra

eram cinco fardados pretos de alma branca contra um

e os cinco pretos de alma branca não eram racistas

eram pretos que tinham a alma branca – e a essa alma branca se aferra

cada preto ou branco que acha que alma tem cor

não eram racistas os cinco pretos de alma da cor da neve

tinham apenas a insígnia do poder dos brancos e do poder

de bater com ardor – de bater ainda mais com mais ardor

no preto cuja alma não era branca nem preta nem de outra cor

e então a justiça do branco naquele encontro se fez

pela mão preta de pretos de almas brancas

e as mãos pretas mataram pelo branco mais uma vez





30.1.2023

(Ilustração: Johnalynn Holanda - no "The Washington Post")



(Você pode ouvir este poema, na voz do autor, neste link de podcast:



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