queria hoje ter a fé dos desvalidos
para conversar de novo com minha mãe
mas mesmo sem qualquer metafísica
falo com ela todos os dias da minha vida
o eu menino que convive em mim
chora o choro infantil de cada dia
no colo de minha mãe que me acolhe
sou o frágil broto que não cresceu
olho para o tempo o tempo todo
sabendo que o tempo que tenho
é sempre o tempo que não tive
nem o tempo que nunca terei
quando tive o tempo com minha mãe
talvez não tenha tido toda a consciência
de que fulge o tempo feliz como o raio
que não luz duas vezes na mesma nuvem
não colhi todos os beijos que necessitara
nem me dei conta de que um dia
tudo quanto gostava teria um fim
hoje sou apenas a sombra que sonha
com meu passado como se fosse o futuro
sem a fé dos desvalidos de rever minha mãe
28.8.2024
(Foto de família: minha mãe e meus filhos)
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