caminho pelas ruas nauseabundas de São Paulo
revolta-me o cheiro de urina e merda
entristece-me a quantidade de mendigos em tendas
ou deitados sobre papelões
à chuva
ao sol
ao desespero de não saber o dia de amanhã
a cidade fede
a cidade fede não só com o cheiro de urina e merda
a cidade fede
com a indiferença de quem passa e finge não ver
a pobreza absoluta de crianças e mulheres e indivíduos
as calçadas tomadas por pedintes
a miséria que assume as cores negras de nossa indiferença
sujeira
fedor
o cheiro de urina e merda
revolto-me com a sujeira
revolto-me com o mau cheiro
revolto-me com o lixo
mas não
não me revoltam os que chafurdam ali naquela miséria
não são eles os culpados de toda essa situação
crianças
adultos
mulheres
gente que sofre
gente sem teto
gente sem comida
gente sem futuro
gente que é fruto da indiferença dos poderosos
consequência de políticos que não se preocupam com o povo
ladrões do dinheiro público
governantes sem nenhuma sensibilidade
são essa gente que causa a miséria
são essa gente que fede mais que o mau cheiro das ruas
por isso quando caminho
pelas ruas do centro da cidade
e vejo essa gente toda
sem roupa decente
sem comida decente
sem lugar decente para dormir
sem qualquer futuro
vivendo como bichos
pelos cantos e buracos dos viadutos da cidade grande
eu só penso que deviam ir todos os políticos responsáveis
para o raio que os parta – para o quinto dos infernos
em prisão perpétua na cadeia mais nauseabunda
2.1.2024
20.5.2024
(Ilustração:pessoa em situação de rua na Avenida Paulista
- SaoPaulo, foto de Leonardo Almeida)
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