21 de dez. de 2024

Sobre a solidão

 



Drummond fala da solidão do boi no campo.

Eu falo da solidão do gato no telhado.

Eu falo também da solidão do poeta na madrugada.

E lembro tantas outras solidões

que um poema seria pouco para todas elas desfiar.



Mas há uma solidão maior:

a solidão de um ser humano perdido na multidão.



O poço profundo a seus pés,

o horizonte perdido no fundo de suas retinas,

o desespero inaudito no esgar de seus lábios,

a lágrima que escorre pelo peito e pelas pernas

até chegar ao chão de estrelas mortas das ruas podres,

o espanto esburacando o fundo do peito.



E a seu redor o silêncio – o silêncio de milhões de vozes

– aos gritos e gemidos.





29.11.2023

(Ilustração: Adam-Frans Van der Meulen: Marche du Roy 
accompagné de ses gardes passant sur le Pont Neuf et allant au Palais)





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