Drummond fala da solidão do boi no campo.
Eu falo da solidão do gato no telhado.
Eu falo também da solidão do poeta na madrugada.
E lembro tantas outras solidões
que um poema seria pouco para todas elas desfiar.
Mas há uma solidão maior:
a solidão de um ser humano perdido na multidão.
O poço profundo a seus pés,
o horizonte perdido no fundo de suas retinas,
o desespero inaudito no esgar de seus lábios,
a lágrima que escorre pelo peito e pelas pernas
até chegar ao chão de estrelas mortas das ruas podres,
o espanto esburacando o fundo do peito.
E a seu redor o silêncio – o silêncio de milhões de vozes
– aos gritos e gemidos.
29.11.2023
(Ilustração: Adam-Frans Van der Meulen: Marche du Roy
accompagné de ses gardes passant sur le Pont Neuf et allant au Palais)
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