27 de dez. de 2024

sonho do poeta

 







tempo

vento

vida / morte

desdita / sorte

memória

história

caminhos

tudo quanto faz parte da minha poesia

muitos mais enredos que tempo e vento

que vida e morte

que história e memória



- os caminhos percorridos

os caminhos desejados

os passos nas nuvens

as nuvens na cabeça

e a cabeça nas nuvens

o poeta é isso e tudo mais



o poeta finge que mente o que deveras sente

[ou mais ou menos isso]

já o disse o Poeta – esse sim o bardo das palavras em liberdade



padece sempre o poeta – eu – talvez

da velha sentença perdida no tempo

e sonha que vai um dia despejar seus versos

em vasos de ouro de salões iluminados



que sonhe o poeta – eu – com os talvezes que não o empolgam

com a música que nunca ouviu

com os livros que nunca leu

com os caminhos que nunca percorreu



sábio será se um dia

mais uma vez

talvez

eu – o poeta? – partir para o sonho absoluto

e deixar no rabo do cometa

um dístico sem sentido

uma palavra torta

um verso mal escandido

para desespero de outro poeta – eu? você quem sabe? – num futuro remoto

sentado à beira do abismo

lendo e relendo até lhe arderem as pupilas

os versos e reversos de um poeta caolho

navegante

errante

de barcaças lentas sóbolos rios secos

da desesperança



17.10.2023

(Ilustração: Carl Spitzweg - O Pobre Poeta, 1839)



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