tempo
vento
vida / morte
desdita / sorte
memória
história
caminhos
tudo quanto faz parte da minha poesia
muitos mais enredos que tempo e vento
que vida e morte
que história e memória
- os caminhos percorridos
os caminhos desejados
os passos nas nuvens
as nuvens na cabeça
e a cabeça nas nuvens
o poeta é isso e tudo mais
o poeta finge que mente o que deveras sente
[ou mais ou menos isso]
já o disse o Poeta – esse sim o bardo das palavras em liberdade
padece sempre o poeta – eu – talvez
da velha sentença perdida no tempo
e sonha que vai um dia despejar seus versos
em vasos de ouro de salões iluminados
que sonhe o poeta – eu – com os talvezes que não o empolgam
com a música que nunca ouviu
com os livros que nunca leu
com os caminhos que nunca percorreu
sábio será se um dia
mais uma vez
talvez
eu – o poeta? – partir para o sonho absoluto
e deixar no rabo do cometa
um dístico sem sentido
uma palavra torta
um verso mal escandido
para desespero de outro poeta – eu? você quem sabe? – num futuro remoto
sentado à beira do abismo
lendo e relendo até lhe arderem as pupilas
os versos e reversos de um poeta caolho
navegante
errante
de barcaças lentas sóbolos rios secos
da desesperança
17.10.2023
(Ilustração: Carl Spitzweg - O Pobre Poeta, 1839)
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