1 de jul. de 2025

amores redivivos

 



os amores do passado

não ficam no passado



quando parece que deles não nos lembramos mais

esquecemos – oh! ingênuos – que os enterramos em covas rasas

julgando que fossem – esses amores – defuntos normais

mas eles lá ficaram como adormecidas brasas

brasas que a qualquer sopro vão de novo nos queimar

brasas que vão subir em labaredas a qualquer vento

e tirar de novo do nosso peito todo o ar



não importa quanto tenha passado de tempo

não importa quanto deles nos tenhamos esquecido

– há sempre uma pontinha de não esquecimento

num gesto que nos afronta ou num beijo prometido

e lá se vão pensamentos e imaginação com novas asas

a fazer-nos sofrer de novo aquilo que foi tão sofrido



ah! os amores do passado

não queríamos tê-los lembrado

mas são agulhas no nosso peito enterradas

de novo remexidas e de novo cutucadas



um só ensejo de alegria nos trazem esses amores redivivos

– se doem – e doem muito – provam no entanto que estamos vivos



1.5.2025

(Ilustração: Leonid Afremov - Kiss on the Bench)