esta tarde llueve, llueve mucho. ¡y no
tengo ganas de vivir, corazón!
césar vallejo
o meu peito cheio de ti transborda
sofro todo o necessário para que a chuva
lave um pouco do barro que escorre
pelas ladeiras de meus desencantados arroubos
mas é inútil qualquer tentativa de alívio
vou pela tarde o caminho breve que escorrega
para o centro de tudo quanto queria ser
meu coração aos farrapos em transe sob a chuva
ao meu caminhar sem rumo
negaceia-me a solidão úmida de lágrimas por ti
as mesmas lágrimas que derramam nuvens pretas
eu o acossado de tantas esperanças e desesperanças
busco em vão algum alento dentro dos pingos que caem
são o fel que me queima por dentro
ainda que gelado esteja o peito que pulsa em vão
borrões de saudade
borrões de ansiedade
borrões de ausência
são o meu alimento nesta tarde que não acaba nunca
nesta tarde em que pranteio o amor defunto que arrasto
pela enxurrada afora como um barco de papel
que se dissolverá e sumirá ladeira abaixo
mas deixará como um borrão de nuvens pretas
as palavras que nele estão escritas
para sempre tatuadas em cada centímetro de minha pele:
“sou teu degredo. não me procures mais”
12.2.2024
(Ilustração: Vincent van Gogh - Auvers sous la pluie)
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