26 de nov. de 2025

cançoneta de verão

 






são onze e meia da noite

e não quero dormir tão cedo

o gato na minha cama

dorme o sono de todos os gatos



receio a insônia que pode vir

depois de um dia de calor intenso

não sei o que quero

não sei o que penso



talvez o verão mais quente que o normal

traga tempestades inconsequentes



no meu quarto diminuto

apenas a música que me chega

pelas ondas hertzianas



meu pensamento voa

busca sombras de vento

ouço apenas a canção insana

de tristes lamentos

que parecem latidos

da garganta de um cão



prevejo sonhos que viram pesadelos

e ouço melodias que arrepiam os pelos

dos meus braços sem abraços

já tão cansados de sonhos baços

que não levam a lugar nenhum



ronrona o gato na minha cama

bate a insônia no meu peito

do fundo da noite a canção

que devia vir de algum ponto

de uma aurora ainda estrelada

são notas despejadas

pelas pedras de uma estrada

por onde caminham peregrinos

que se misturam aos assassinos



são todos seres inúteis

soltam fogos fúteis

cantam canções inconsúteis



nesse momento eu quero

que todos sintam

o que sempre senti

no meu grito para o infinito

- quanta falta faz a Rita Lee




2.2.2025

(Ilustração: Paulo Terra, Pedro Terra e Eraldo Mourana 
- mural na Vila Mariana, São Paulo, SP)

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