são onze e meia da noite
e não quero dormir tão cedo
o gato na minha cama
dorme o sono de todos os gatos
receio a insônia que pode vir
depois de um dia de calor intenso
não sei o que quero
não sei o que penso
talvez o verão mais quente que o normal
traga tempestades inconsequentes
no meu quarto diminuto
apenas a música que me chega
pelas ondas hertzianas
meu pensamento voa
busca sombras de vento
ouço apenas a canção insana
de tristes lamentos
que parecem latidos
da garganta de um cão
prevejo sonhos que viram pesadelos
e ouço melodias que arrepiam os pelos
dos meus braços sem abraços
já tão cansados de sonhos baços
que não levam a lugar nenhum
ronrona o gato na minha cama
bate a insônia no meu peito
do fundo da noite a canção
que devia vir de algum ponto
de uma aurora ainda estrelada
são notas despejadas
pelas pedras de uma estrada
por onde caminham peregrinos
que se misturam aos assassinos
são todos seres inúteis
soltam fogos fúteis
cantam canções inconsúteis
nesse momento eu quero
que todos sintam
o que sempre senti
no meu grito para o infinito
- quanta falta faz a Rita Lee
2.2.2025
(Ilustração: Paulo Terra, Pedro Terra e Eraldo Mourana
- mural na Vila Mariana, São Paulo, SP)


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