2 de jul. de 2016

o vento




(Foto s/indicação de autoria)



vem o vento

convida as folhas secas

a dançar a velha valsa de inverno

vem o vento

rodopia o redemoinho em rolos

de pó

folhas

e flores

mortas

num bolero de dois pra lá

dois pra cá

vem o vento

ruge soturno lá embaixo e sobe

pelo tronco das paineiras

lambe os muros

bate as folhas abertas

das janelas assustadas

num samba em ritmo de castanhola

a bateria de instrumentos

do pandeiro à cuíca

roncos

gemidos

batidos

mãos

pés

vozes

dança feroz

abacateiros enregelados

mestres-salas desajeitados

vai o vento como a vida

tudo por ele passa

em passo de passo doble



de repente acaba assim

depois de tudo

e o silêncio desce

soturno

ao fundo

dos vales mortos





26.6.2016


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