(Dino Valls - La Nave de los Locos)
babava coca-cola
como um poeta concretista
cuspia caroços de azeitona
como um judeu do velho testamento
olhava torto para os companheiros
como se quisesse exorcizar alguns demônios
arrotava pão de queijo
como um mineiro de sete lagoas
cantava uma melopeia sem sentido
como um gaúcho laçando boi
cheirava pó de arroz
como um carioca da zona sul
peidava picadinho de couve
como um guri da zona leste
falava mal do governo
como um motoqueiro sem destino
dançava um tango arretado
como se nadasse no rio da prata
tocava a sanfona de sete baixos
como um nordestino em são paulo
pescava e fritava um pirarucu
como pintasse um quadro de picasso
sonhava sonhos impossíveis
como se cavalgasse o rocinante
perdeu-se na baba de coca-cola
como todo poeta um dia
sonhou perder-se e era
enfim e nos finalmentes
a sombra de sua própria sombra
19.11.2016
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