(Di Magalhães - sabiá-laranjeira)
ó meu sabiá
por que cantas tantas vezes
teu trinado trinca as trancas de meu peito
e do coração desfeito entorna o vento
que traz do passado os cantos de outrora
ó meu sabiá
teu canto desde a aurora
acorda as cordas travadas desse instrumento
que há tempos bate em compasso lento
como se teu trinado de agora
trouxesse do passado os cantos de outrora
há na vida e na lembrança dos seres
que se dizem humanos
momentos de paixão e de estranhamentos
sepultados no fundo da lembrança
deixa-os lá meu caro sabiá
não os traga de volta por favor
que não há dor maior a lamentar
que esta de sempre lembrar
o que já há muito se esqueceu
teu trinado pela tarde afora
traz de volta o que um dia
num momento outrora
foi aquilo que se chamou felicidade
e por ter sido tão fugaz em seu tempo lento
é que em dor se transformou com o passar do tempo
e o vento que sopra vindo do leste
que faz vibrar as cordas do coração
e as folhas de tua pitangueira
que vento é este meu sabiá
que vento triste no trinado do anoitecer
cala o teu bico meu pássaro tardio
que a vida que escorre pelas minhas mãos
é a mesma vida que viaja
no trinado de teu canto
pelo lusco-fusco do dia que cai
pelo lusco-fusco da vida que se vai
oh meu sabiá
11.11.2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário