17 de nov. de 2016

sabiá







(Di Magalhães - sabiá-laranjeira)





ó meu sabiá

por que cantas tantas vezes



teu trinado trinca as trancas de meu peito

e do coração desfeito entorna o vento

que traz do passado os cantos de outrora



ó meu sabiá

teu canto desde a aurora

acorda as cordas travadas desse instrumento

que há tempos bate em compasso lento

como se teu trinado de agora

trouxesse do passado os cantos de outrora



há na vida e na lembrança dos seres

que se dizem humanos

momentos de paixão e de estranhamentos

sepultados no fundo da lembrança

deixa-os lá meu caro sabiá

não os traga de volta por favor

que não há dor maior a lamentar

que esta de sempre lembrar

o que já há muito se esqueceu



teu trinado pela tarde afora

traz de volta o que um dia

num momento outrora

foi aquilo que se chamou felicidade

e por ter sido tão fugaz em seu tempo lento

é que em dor se transformou com o passar do tempo



e o vento que sopra vindo do leste

que faz vibrar as cordas do coração

e as folhas de tua pitangueira

que vento é este meu sabiá

que vento triste no trinado do anoitecer



cala o teu bico meu pássaro tardio

que a vida que escorre pelas minhas mãos

é a mesma vida que viaja

no trinado de teu canto

pelo lusco-fusco do dia que cai

pelo lusco-fusco da vida que se vai



oh meu sabiá




11.11.2016


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