(Tiago Hoisel)
não gosto de cães
e eles não gostam de mim
fora isso
sou um cara igual a todos
sem mistérios
sem descrenças outras
que aquelas com que a vida
nos presenteia
os meus passos pisam
as mesmas pegadas
que pelos caminhos deixaram
outros seres como eu
na curta história da humanidade
os deuses do passado
tornaram-se em cães amestrados
a latir inutilmente para o futuro
um futuro bizarro e sem conotações
apenas um futuro
os pelos de meu rosto eriçam-se
a cada estrondo de morte
que permeia a galáxia onde nos toleramos
sou o que fui
e fui o que nunca serei
o vento das estrelas sopra os meus cabelos
e o cheiro de carniça
vem de trás de cada treliça
que separa e segrega
há esperança no entanto
há esperança
enquanto ladrarem molossos na escuridão
enquanto plantarem as vinhas nas encostas
enquanto se quebrarem as algemas nos dedos médios
não nos iludamos no entanto
caros companheiros da tragédia da vida
riamos até que ela aceite ser de novo comédia
e passeemos com dante em busca de beatriz
por todos os infernos que nos prometem
os pretensos e pretensiosos donos
desse mundo sem eira nem beira
não
não gosto de cães
e eles me detestam
29.10.2016
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