um país se chama estados unidos da américa
estados unidos da américa
mas se apropria do nome do continente
e se diz apenas américa
américa
e tu seu puto mexicano
e tu seu idiota brasileiro
e tu seu pampeiro argentino
vós todos vosotros cucarachas de la otra américa
achais muito bonito que haja luzes coloridas
em toda a cidade de new york
que haja mall centers de sorvetes coloridos em miami
que haja tiros em columbine
que haja negros mortos pela polícia em manhattan
e que toda essa porra escorra
e cubra a cordilheira dos andes
vinda daqueles estados que têm nomes estranhos
dakota nebraska ohio kentuck idaho
porque são seres estranhos que ali habitam
sob sol ou sob gelo sobre púlpitos bíblicos de sonhos bélicos
como se toda esta coisa nojenta
que escorre da boca de presidentes caducos
tenha gosto de coca-cola
ou sabor de carne inventada entre dois pedaços de pão redondo
hambúger podre que um tal de macdonalds espalha pelo mundo
envenenando as línguas e as mentes
com seus nervos e gorduras trans recheados de agrotóxico
esse país que olha para o diferente e escarra no chão com desprezo
porque vem da fronteira do inferno seja ao norte com o canadá
seja ao sul com o méxico toda a baba que matou sioux e cheyennes
escorrida essa baba das balas da bíblia de calvino e lutero
para rechear de dólares os anseios de capitalistas canibais
esse país que se diz américa
porque coloca estrelas da bandeira nos dentes do tio sam
para o tio sam morder tua carne de cucaracha de latino fodido
na favela do rio de janeiro ou nos morros de bogotá
para o tio sam despejar seu ranho podre sobre allende em la moneda
para o tio sam despejar seu ranho podre sobre qualquer latino
que ouse olhar para cima e não beijar a ponta de suas botas
esse país que se diz américa já teve até uma bunda negra
sentada no trono da casa branca
mas seus desígnios continuam podres
como a bosta da vaca dos currais do texas
esse país tomou o nome que era nosso e que era de todos
e quer tomar a nossa alma o nosso desejo a nossa vontade
pelo petróleo da venezuela
pela carne dos pampas
pelas matas da amazônia
pelas minas de materiais preciosos que só os olhos de satélites veem
e veem e mandam para os computadores do pentágono
para que em qualquer vestígio de lucro a águia pouse suas garras
negocie com tuas tripas ó cucaracha sem eira nem beira
tuas tripas vazias e exige que tu te ajoelhes pedindo migalhas
migalhas do pão que tu amassas e assas na grelha
de economistas e financistas de bunda grande da bolsa de new york
e eles os que se dizem americanos eles querem sim que tu te ajoelhes
que tu te ajoelhes às bíblias loucas de evangelhos podres e que tu repitas
que tu repitas o mantra que vem dos computadores de wall street
me usa me usa me usa me usa me usa me usa
e eles te usam e jogam tuas carnes e teus sonhos no inferno
de tuas próprias palafitas de rios podres
no inferno de tuas fomes nunca saciadas nem com as migalhas da casa branca
porque até mesmo um pato manco lá na casa branca deles
pode decidir tua fome teu desejo teu caminho para esse mesmo inferno
e tu pedes me usa me usa me usa me usa e te perdes
te perdes para sempre na bocarra faminta de wall street
no meio da merda de papagaios e papéis inverossímeis
de banqueiros podres e presidentes predadores
e tu cucaracha esmagado pelas botas de tio sam
tu latino sem dentes sem tripa sem amanhãs
tu continuas ladrando à lua do colorado tuas misérias
tu continuas miando fino nas ruas de miami o teu mantra
me usa me usa me usa me usa me usa me mata me joga fora
28.2.2019
(Você pode ouvir esse poema, na voz do auto, no seguinte link de podcast: