20 de abr. de 2019

me usa







um país se chama estados unidos da américa

estados unidos da américa

mas se apropria do nome do continente

e se diz apenas américa

américa

e tu seu puto mexicano

e tu seu idiota brasileiro

e tu seu pampeiro argentino

vós todos vosotros cucarachas de la otra américa

achais muito bonito que haja luzes coloridas

em toda a cidade de new york

que haja mall centers de sorvetes coloridos em miami

que haja tiros em columbine

que haja negros mortos pela polícia em manhattan

e que toda essa porra escorra

e cubra a cordilheira dos andes

vinda daqueles estados que têm nomes estranhos

dakota nebraska ohio kentuck idaho

porque são seres estranhos que ali habitam

sob sol ou sob gelo sobre púlpitos bíblicos de sonhos bélicos

como se toda esta coisa nojenta

que escorre da boca de presidentes caducos

tenha gosto de coca-cola

ou sabor de carne inventada entre dois pedaços de pão redondo

hambúger podre que um tal de macdonalds espalha pelo mundo

envenenando as línguas e as mentes

com seus nervos e gorduras trans recheados de agrotóxico

esse país que olha para o diferente e escarra no chão com desprezo

porque vem da fronteira do inferno seja ao norte com o canadá

seja ao sul com o méxico toda a baba que matou sioux e cheyennes

escorrida essa baba das balas da bíblia de calvino e lutero

para rechear de dólares os anseios de capitalistas canibais

esse país que se diz américa

porque coloca estrelas da bandeira nos dentes do tio sam

para o tio sam morder tua carne de cucaracha de latino fodido

na favela do rio de janeiro ou nos morros de bogotá

para o tio sam despejar seu ranho podre sobre allende em la moneda

para o tio sam despejar seu ranho podre sobre qualquer latino

que ouse olhar para cima e não beijar a ponta de suas botas

esse país que se diz américa já teve até uma bunda negra

sentada no trono da casa branca

mas seus desígnios continuam podres

como a bosta da vaca dos currais do texas

esse país tomou o nome que era nosso e que era de todos

e quer tomar a nossa alma o nosso desejo a nossa vontade

pelo petróleo da venezuela

pela carne dos pampas

pelas matas da amazônia

pelas minas de materiais preciosos que só os olhos de satélites veem

e veem e mandam para os computadores do pentágono

para que em qualquer vestígio de lucro a águia pouse suas garras

negocie com tuas tripas ó cucaracha sem eira nem beira

tuas tripas vazias e exige que tu te ajoelhes pedindo migalhas

migalhas do pão que tu amassas e assas na grelha

de economistas e financistas de bunda grande da bolsa de new york

e eles os que se dizem americanos eles querem sim que tu te ajoelhes

que tu te ajoelhes às bíblias loucas de evangelhos podres e que tu repitas

que tu repitas o mantra que vem dos computadores de wall street

me usa me usa me usa me usa me usa me usa

e eles te usam e jogam tuas carnes e teus sonhos no inferno

de tuas próprias palafitas de rios podres

no inferno de tuas fomes nunca saciadas nem com as migalhas da casa branca

porque até mesmo um pato manco lá na casa branca deles

pode decidir tua fome teu desejo teu caminho para esse mesmo inferno

e tu pedes me usa me usa me usa me usa e te perdes

te perdes para sempre na bocarra faminta de wall street

no meio da merda de papagaios e papéis inverossímeis

de banqueiros podres e presidentes predadores

e tu cucaracha esmagado pelas botas de tio sam

tu latino sem dentes sem tripa sem amanhãs

tu continuas ladrando à lua do colorado tuas misérias

tu continuas miando fino nas ruas de miami o teu mantra

me usa me usa me usa me usa me usa me mata me joga fora



28.2.2019



(Você pode ouvir esse poema, na voz do auto,  no seguinte link de podcast:



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