vou do céu ao inferno em segundos
ou vou do inferno ao céu nos mesmos segundos
sou fluido e torto como drummond
ou pedra e mar como camões
ou ainda
sou esgoto de águas tratadas como bocage
vejo e oiço estrelas e com elas estabeleço
diálogos de loucas poesias em forma de caixões voadores
fujo aos temas do tempo nas asas dos românticos
versejo em prosa e proseio em verso
à luz da lua ou ao som dos beatles
que importa o tempo quando o tempo passa
sem nem mesmo atinar para mim e sorrir
sou o fruto não bendito de meu tempo
como não poderia deixar de ser
mas não me prendo a esse tempo de espessos coices à lógica
há tremores de nervos provenientes das profundezas da terra
e os ventos que sopram abrem feridas e queimaduras solares
sou o que sou porque não poderia deixar de ser o que não sou
meus braços buscam a espessura de língua de fogo-fátuo
escritas de sonetos perfeitos povoam meus sonhos
e poluem os lençóis de suores e flatulências
nos extremos estertores de memórias inscritas
em pedras tumulares trazidas da lua
os olhos da serpente do desejo e da luxúria
pregam peças e pregos nos caixões rústicos
dos meninos mortos em conventos de pedra e vento
volto às montanhas de minas e descubro que são agora
apenas papéis de commodities na bolsa de nova iorque
e antes que tiradentes de novo se enforque
o navio fantasma que singra os vales de terracota
por onde correm os rios de leite azedo e mel coado
afunda no inferno de meus versos inúteis
27.1.2019
(Ilustração: Robert Fisher - We Live Here)
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