cartesiana / minha loucura
não a de zé celso martinez correa
antropófaga loucura / autófaga
vomitiva e especulativa
descida aos vários infernos do id
e do idiota e do idiomatismo
cartesiana / minha loucura
não a de joãosinho trinta beija-flor
carnal e nu da cabeça aos pés
negro que faz dançar o vento
a soprar áfricas de desejo no asfalto quente
velho bruxo de antigas facções da cor
cartesiana / minha loucura
busca o desejo contido e o grito surdo
não teme os infernos nem os bruxedos
não me faz no entanto comer merda
ou vomitar demônios pintados como quadros de bosch
sou mais mondrian e seus quadrados
ainda que pense que haja mais loucura
nas retas e cores de mondrian do que
nos arabescos das catedrais góticas
gotejo minha bile em jardins de cerejeiras
pelas bocas de górgonas e pelas chaminés de fumaças podres
penso
logo / faço um verso e esse verso
quase sempre tem o estranho poder
de virar do avesso apenas a minha língua suja
não reviro os olhos em plena nudez
nem salto abismos de folhas secas
ai de mim e de minha pobre e tão pouco louca poesia
7.2.2019
(Ilustração: Piet Mondrian - composição
em vermelho amarelo azul e preto - 1921)
(Você pode ouvir esse poema, na voz do autor, no seguinte link de podcast:
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