2 de abr. de 2019

cartesianismo







cartesiana / minha loucura

não a de zé celso martinez correa

antropófaga loucura / autófaga

vomitiva e especulativa

descida aos vários infernos do id

e do idiota e do idiomatismo



cartesiana / minha loucura

não a de joãosinho trinta beija-flor

carnal e nu da cabeça aos pés

negro que faz dançar o vento

a soprar áfricas de desejo no asfalto quente

velho bruxo de antigas facções da cor



cartesiana / minha loucura

busca o desejo contido e o grito surdo

não teme os infernos nem os bruxedos

não me faz no entanto comer merda

ou vomitar demônios pintados como quadros de bosch

sou mais mondrian e seus quadrados

ainda que pense que haja mais loucura

nas retas e cores de mondrian do que

nos arabescos das catedrais góticas



gotejo minha bile em jardins de cerejeiras

pelas bocas de górgonas e pelas chaminés de fumaças podres

penso

logo / faço um verso e esse verso

quase sempre tem o estranho poder

de virar do avesso apenas a minha língua suja

não reviro os olhos em plena nudez

nem salto abismos de folhas secas

ai de mim e de minha pobre e tão pouco louca poesia



7.2.2019


(Ilustração: Piet Mondrian - composição 
em vermelho amarelo azul e preto - 1921)


(Você pode ouvir esse poema, na voz do autor, no seguinte link de podcast:


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