na carne em pedra transformada / transtornada
teresa em gozos às mãos de bernini
o terror nos cabelos de medusa ou o prazer
nos olhos baços de deuses lúbricos
a carne em pedra meditada em cinzel e martelo
cumpre a função de nos transformar / transtornar
o movimento em estático torpor
voa o poeta que não acredita no amor
a beijar o beijo de eterno estupor
cala-se a voz
levanta-se o desejo
sacramenta-se o poder
reduz-se a gesto o decreto
césar ou o mendigo ali se acham
nobres ambos em talhe e testemunho
erotismos bárbaros e gozos castos
na carne em pedra transudados / transtornados
o vento o sol o mar a mão o ventre
no mármore ou no granito o grito
o rompante a miséria o espanto
a flecha do arco tendido espeta o meu coração
fecho o livro e leio o dístico em redondez
de velocidade ensaiada e completude sentida
tudo à dor e ao prazer a pedra espanta
a carne ao amor e ao ódio enfim unida
num gesto que congela não na pedra
na imaginação que voa e penetra
no instante mesmo do ato em pedra
a maciez de um ventre a dureza de um pênis
ainda que frouxo e pendido sofre o tempo
não arranca da pedra senão o gozo
2.4.2019
(Escultura de Bryon Draper - foto de autor não identificado)
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