13 de nov. de 2019

eu menino





eu menino não sonhava caminhos

deixava que a água da chuva levasse

meus barquinhos de papel para destinos

que eu imaginava infinitos e olhava

de vez em quando as estrelas porque

não podia compreendê-las e eu só

entendia dos infinitos das enxurradas

e dos destinos incertos de barquinhos

de papel – não era o céu e seus brilhos

de pérolas distantes ainda o espelho

de minhas lágrimas – viver para mim

era como assim a formiga que carrega

a folha bem maior do que ela – e todo

o meu mundo apertava-se no silêncio

nesse silêncio profundo das noites

quando o frio do inverno fazia carinho

pelas frestas da janela e se insinuava

pelas dobras da coberta fina e eu tinha

febre e chamava minha mãe o porto

seguro de eu menino ainda não imaginava

nem sonhava outros caminhos que não

fossem os caminhos dos cuidados e dos

carinhos de minha mãe no meio da noite

de medo porque era escuro e era inverno

e eu menino ali transido me julgava eterno



9.11.2019


(Ilustração: Cândido Portinari)


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