eu menino não sonhava caminhos
deixava que a água da chuva levasse
meus barquinhos de papel para destinos
que eu imaginava infinitos e olhava
de vez em quando as estrelas porque
não podia compreendê-las e eu só
entendia dos infinitos das enxurradas
e dos destinos incertos de barquinhos
de papel – não era o céu e seus brilhos
de pérolas distantes ainda o espelho
de minhas lágrimas – viver para mim
era como assim a formiga que carrega
a folha bem maior do que ela – e todo
o meu mundo apertava-se no silêncio
nesse silêncio profundo das noites
quando o frio do inverno fazia carinho
pelas frestas da janela e se insinuava
pelas dobras da coberta fina e eu tinha
febre e chamava minha mãe o porto
seguro de eu menino ainda não imaginava
nem sonhava outros caminhos que não
fossem os caminhos dos cuidados e dos
carinhos de minha mãe no meio da noite
de medo porque era escuro e era inverno
e eu menino ali transido me julgava eterno
9.11.2019
(Ilustração: Cândido Portinari)
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