19 de nov. de 2019

fugacidade



vida é vento que vai e não volta

vagas sombras vagamos nós por esse mundo

o tempo que nos consome faz piruetas nas galáxias

nós em fios de lã cada momento que enlouquecemos aqui

e assim como os versos se esticam para o fim de uma linha imaginária

tentamos esticar a vida em torno de nossa imaginação que não encontra o fim

apenas o vento da vida

que vai e não vem nunca

de volta ao sopro inicial

somos e somos palindrômicos seres a chorar as lágrimas de deuses estúpidos

vagas sombras

etéreas vagas

sonambulistas consagrados ao espaço e ao tempo que nos sufoca em viagens inúteis

vida é isso e é muito mais do que estremecem dentro de nós os nós de nossos pesadelos

se fugimos do tempo

o tempo nos pega

na curva da lua crescente em noite de lobisomens que somos afinal nós mesmos

sedentos do sangue do tempo que se extingue num relógio torto da parede

de um sobrado em ruínas bem no centro de galáxias em eterna expansão

vida é vento e não volta e não vaga à nossa vontade pelo vórtice dos nossos nós



10.11.2019 

Ilustração: foto de Chema Madoz)




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