28 de nov. de 2019

lutemos




um batuque que bata no chão

o repique do passo marcado

no caminho da vida o teu canto

no reverso do verso e do pranto

para todos que lutam sem trégua


o poema ganha o passe livre de cantar arrebóis sem tons ou meios tons

vale o que sonha o poeta e vale o que apontam as palavras-pássaros

mas é preciso que o passo marcado não deixe de ver ao longe

o caminho dos que não tiveram caminho

o pranto dos que não tiveram olhos

a luta dos que não tiveram trégua


é preciso que se cante o silêncio atormentado dos suicidas

é preciso que se ouça a voz dos que perderam até mesmo o medo

é preciso que a bala do revólver assassino se derreta no cano da arma

e não atinja o menino de mochila às costas ou a menina que dança à luz da lua

tenha o verso o tempero do tempo e o tempero do canto da primavera

tenham os olhos dos que cavam túmulos a lágrima que propicie a flor

que não haja desistência nas trincheiras da igualdade

que não se soltem as mãos nas trincheiras da fraternidade

que não se deixe de plantar sonhos nas trincheiras da liberdade


os abismos que nos contemplam refletem braços erguidos para a marcha

o tempo crava no peito as chagas e as marcas das tempestades

sopremo-las com nosso canto nos olhos dos opressores

ceguemos seu ódio com o calor que vem dos fogos ancestrais

revolvamos o pó da terra para plantar nossos passos

sigamos o norte apontado pelas estrelas distantes


que o batuque do passo marcado

no reverso da luta e do pranto

nos permita chegar ao momento

da vitória que um dia virá



25.10.2019

(Ilustração: Adolph Menzel - Studentenfackelzug)


Você pode ouvir esse poema, na voz do autor, neste endereço de podcast:

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