um batuque que bata no chão
o repique do passo marcado
no caminho da vida o teu canto
no reverso do verso e do pranto
para todos que lutam sem trégua
o poema ganha o passe livre de cantar arrebóis sem tons ou meios tons
vale o que sonha o poeta e vale o que apontam as palavras-pássaros
mas é preciso que o passo marcado não deixe de ver ao longe
o caminho dos que não tiveram caminho
o pranto dos que não tiveram olhos
a luta dos que não tiveram trégua
é preciso que se cante o silêncio atormentado dos suicidas
é preciso que se ouça a voz dos que perderam até mesmo o medo
é preciso que a bala do revólver assassino se derreta no cano da arma
e não atinja o menino de mochila às costas ou a menina que dança à luz da lua
tenha o verso o tempero do tempo e o tempero do canto da primavera
tenham os olhos dos que cavam túmulos a lágrima que propicie a flor
que não haja desistência nas trincheiras da igualdade
que não se soltem as mãos nas trincheiras da fraternidade
que não se deixe de plantar sonhos nas trincheiras da liberdade
os abismos que nos contemplam refletem braços erguidos para a marcha
o tempo crava no peito as chagas e as marcas das tempestades
sopremo-las com nosso canto nos olhos dos opressores
ceguemos seu ódio com o calor que vem dos fogos ancestrais
revolvamos o pó da terra para plantar nossos passos
sigamos o norte apontado pelas estrelas distantes
que o batuque do passo marcado
no reverso da luta e do pranto
nos permita chegar ao momento
da vitória que um dia virá
25.10.2019
(Ilustração: Adolph Menzel - Studentenfackelzug)
Você pode ouvir esse poema, na voz do autor, neste endereço de podcast:
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