dentro de mim correm rios de sentimentos
que fazem frutificar flores estranhas
nas suas margens – flores de nuvens ocas
beijadas por colibris de asas quebradas
são rios barrentos que correm lentos
ou rios azuis que correm prestos
barcos que neles buscam horizontes
perdem-se nos remoinhos e nas cachoeiras
não há neles águas remansosas
não há neles possibilidades piscosas
carregam lodo e húmus que ficam pelas margens
adubando com ossos e vísceras de afogados
as floradas de estranhas flores que não viram frutos
rios tortos e rios mortos
correm dentro de mim de algum lugar
para lugar nenhum
fazem de mim o que sou e o que não sou
de sentimentos e angústias povoado
como todos os rios mortos e todos os rios tortos
que correm pelo mundo sem qualquer destino
29.9.2020
(Ilustração: Ciparis (Christelle) - the wave)
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