6 de fev. de 2021

ritual

 



trança teus cabelos como cipós

e amarra meus desejos

no ritual do fogo e da carne

deixa que eu queime minha língua

nas labaredas dos bicos dos teus seios

trança tuas tranças em meu pescoço

que minha língua penda como a de um enforcado

e ganhe vida entre tuas coxas

para lamber cada chama do teu ventre

até que jorre tua fonte

trança teus pelos da boceta

como cordas de uma harpa

que o vento tange no amanhecer vazio

senta o teu ventre sobre o meu ventre

dobra tuas pernas ao longo das minhas

cavalga teus sonhos – não os meus

sê valquíria e diana e puta

esquece teu tempo e teus projetos

canta a canção do engasgo

desperta a pomba no seu ninho

espanta os morcegos da caverna

estremece teu corpo de fogo

sobre as dobras despertas

do meu desejo

tenta

tenta desafiar as forças do vento

despeja teus fluidos na minha garganta

canta – canta – canta

a performance do tempo de desejos inauditos

bebe – bebe – bebe

a espuma do resto dos meus tremores

tatua na pele do meu prepúcio

o préstimo de todas as tuas viagens

alcança os meus olhos com teus olhos

inflama com o fogo dos teus seios

todos os meus antigos anseios naufragados

deixa que eu marque em teu umbigo

a data de um tempo que nunca existiu

sê meu anjo na derrota da carne

sê meu demônio no apogeu do meu orgasmo

amplia teu tempo de poderes

na angústia dos parcos poderes de meu pênis

entrega tua língua ao fogo que brota

de raízes mais profundas do que o tempo

sê tu a minha escrava assim como

escravizado estou aos teus delírios

trança tuas tranças com tuas mãos de sangue

e deixa-me enfim descansar a teus pés

do fogo do teu ritual totalmente exangue



7.7.2020

 (Ilustração: Raffaele Marinetti)

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