10 de abr. de 2021

teu passo lento na areia




que brilhe a estrela da manhã

que brilhe a lâmina do punhal

que entre em teu ventre o sal

que dobrem os sinos à febre terçã

sobre o teu rosto o meu rosto desabe

sobre os teus seios o mundo acabe

nasçam flores nas pedras da tarde

pequem as damas sobre lençóis de cetim

confessem as virgens o desejo que arde

entre tuas pernas escorra para mim

as lágrimas de poços e descidas sem fim

que puxem os demônios o grosso sarilho

salve-se a ladainha no canto das beatas

dos teus gemidos renasça o nosso filho

no brilho de estrelas e salvas de pratas

marque o teu passo lento na areia

a solidão que o tempo em mim semeia



1.7.2020

(Ilustração: Alméry Lobel-Riche:1877-1950, Les Luxures, 1929)

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