18 de set. de 2021

ciclo da vida

 




matei mamutes com pedra lascada

morri de frio na idade do gelo

deixei minhas carnes derretidas

nos desertos de áfricas desoladas

bebi cicuta no tonel de sócrates

escolhi a serpente que picou cleópatra

escondi-me em catacumbas de roma

fugindo de leões e de crucificações

lutei ao lado de constantino em bizâncio

torturaram-me por ser bruxa na germânia

queimei na fogueira e ressurgi na austrália

chutei a bunda de cortez no méxico

colhi cabeças guilhotinadas em paris

cozinhei para napoleão em santa helena

cantei e dancei nos cabarés da cidade luz

nos tempos de picasso e erik satie

torrei nos fornos de auschwitz

explodi a bomba atômica em hiroshima

desci aos infernos da ingratidão humana

recolhi despojos de virgens mortas

consolei em vão crianças estupradas

despejei meu sêmen em vasos de cristal

derramei lágrimas em rios de papel

desejei morrer e continuei vivendo

desejei viver e me mataram sem piedade

decorei todos os livros sagrados

concordei com todas as suas lorotas

amei todas as virtudes

vomitei todos os pecados

busquei a cada minuto o sentido da vida



e agora – aqui – quando beijo teu umbigo

tenho em mim todas as estrelas do universo



18.2.2021

(Ilustração: Jindrich Styrsky - the movable cabinet 1934)

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