matei mamutes com pedra lascada
morri de frio na idade do gelo
deixei minhas carnes derretidas
nos desertos de áfricas desoladas
bebi cicuta no tonel de sócrates
escolhi a serpente que picou cleópatra
escondi-me em catacumbas de roma
fugindo de leões e de crucificações
lutei ao lado de constantino em bizâncio
torturaram-me por ser bruxa na germânia
queimei na fogueira e ressurgi na austrália
chutei a bunda de cortez no méxico
colhi cabeças guilhotinadas em paris
cozinhei para napoleão em santa helena
cantei e dancei nos cabarés da cidade luz
nos tempos de picasso e erik satie
torrei nos fornos de auschwitz
explodi a bomba atômica em hiroshima
desci aos infernos da ingratidão humana
recolhi despojos de virgens mortas
consolei em vão crianças estupradas
despejei meu sêmen em vasos de cristal
derramei lágrimas em rios de papel
desejei morrer e continuei vivendo
desejei viver e me mataram sem piedade
decorei todos os livros sagrados
concordei com todas as suas lorotas
amei todas as virtudes
vomitei todos os pecados
busquei a cada minuto o sentido da vida
e agora – aqui – quando beijo teu umbigo
tenho em mim todas as estrelas do universo
18.2.2021
(Ilustração: Jindrich Styrsky - the movable cabinet 1934)
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