14 de ago. de 2022

os rapinantes

 





embora saibamos que se locupletam em seus palácios

a cada contrato assinado com grandes empreiteiras

e transformam em notas verdes nossas fronteiras

e nossas matas em dourados cartapácios



embora saibamos que tripudiam de nossa miséria

e em seus verões suíços somos motivo de pilhéria

enquanto comem à nossa custa lagosta à termidor

e o vinho em suas taças tenha a cor de nosso suor



embora saibamos que de suas canetas de ouro

escorre o sangue extraído de nosso couro

transformado em lamaçal de tolhidas esperanças



embora saibamos que de cada orelha de mulher prometida

pendem dourados cordões umbilicais de milhares de crianças

que foram do berço à cova rasa sem passar pela vida



embora saibamos que a toda a riqueza que some

tem o destino de alimentar seu desprezo por nós

enquanto morremos um pouco cada dia de frio e de fome

no meio das praças na mais sórdida mendicância



embora saibamos que eles apertam na forca os nós

em nossos pescoços e golpeiem nosso couro duro

tudo isso até seria pouco e de menor importância

se não roubassem também nossos sonhos de futuro





20.2.2021

(Ilustração: Diego Rivera - landscape - cactus) 



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