noite em são paulo
entre a fieira branca e a fieira vermelha de carros
a fita negra do rio
no meu quintal
a lua cheia não seca
a roupa no varal
lua minguante
chega o ônibus à rodoviária
desce o migrante
ficou na estrada a reforma agrária
no meu jardim
antes do desmaio
a flor de maio
sorri para mim
desce o lixeiro do caminhão do lixo
ao breu da lua nova
sob jornais os corpos rijos
liga para o patrão: vou recolher
o patrão aprova
na minha cama
cobre-me a sombra da noite
a solidão é um açoite
veloz sobe o carro na calçada
mal vejo quando foge
porque é lua crescente e chove
chove e sinto frio
conto oito corpos no meio-fio
na televisão disseram que eram nove
depois de uma noite insone
não me confortam nem sol nem lua
se eu soubesse tocar trombone
saía agora mesmo para a rua
10.6.2022
(ilustração: Giuseppe Pellizza da Volpedo - Quarto Stato)
Você pode ouvir esse texto, na voz do autor, Isaias Edson Sidney, neste endereço de podcast:
Que espetáculo, Isaías! Adorei seu poema! Amo esse estilo que com poucas palavras o poeta diz tudo, deixando na gente a marca do que lhe vai na alma! Parabéns
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