espanta o poeta o pó da memória
para que aflore enfim o passado
esquecida a história
toda a história de muitas vidas
a pedra da rua torta
lá no fundo da horta
as folhas da jabuticabeira caídas
no chão de terra molhada
a manga madura na ponta do galho
a gabiroba colhida na madrugada
o passo da mãe rangendo o assoalho
o canto sentido de uma sabiá
no galho do manacá
espanta ao poeta que ainda há
sob o pó do presente
a memória perdida
a história esquecida
de um pai sempre ausente
uma pipa parada no ar
um amor que não houve
um canto que ele não soube cantar
8.12.2021
(Ilustração: Lavras/MG: avenida Pedro Salles, anos 50)
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