8 de out. de 2022

pó da memória

 





espanta o poeta o pó da memória

para que aflore enfim o passado

esquecida a história

toda a história de muitas vidas

a pedra da rua torta

lá no fundo da horta

as folhas da jabuticabeira caídas

no chão de terra molhada

a manga madura na ponta do galho

a gabiroba colhida na madrugada

o passo da mãe rangendo o assoalho

o canto sentido de uma sabiá

no galho do manacá

espanta ao poeta que ainda há

sob o pó do presente

a memória perdida

a história esquecida

de um pai sempre ausente

uma pipa parada no ar

um amor que não houve

um canto que ele não soube cantar




8.12.2021

(Ilustração: Lavras/MG: avenida Pedro Salles, anos 50)

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