quero olhar para a frente
e o passado me chama e me devora
olho as minhas pegadas na lama das trilhas de outrora
cada espinho que pisei deixa cicatrizes de momentos
vividos e decantados na secura dos ventos
penso que ainda não logrei
ser o que desejava
o intento de um dia esquecido
na margem da estrada
foi um tempo perdido
foi um passo para o nada
se crio metáforas de estranhas linhagens
para desculpar o desencanto do que hoje me tornei
esbarro nas distantes paisagens
de minhas esperanças inalcançáveis
e improváveis
resta-me gritar o grito rouco dos fugitivos
no estranhamento da vida a que sobrevivi
e semear pelos caminhos os poemas que não escrevi
nas folhas secas e nas flores murchas que pisei
ao tentar criar inimagináveis tempos felizes
marcaram-me o corpo apenas as cicatrizes
e o que pensei que era felicidade
tornou-se a gota de suor de batalhas perdidas
sei que isso pouco importa
quando vejo que a esperança jaz no túmulo das desilusões
há muito apenas uma rosa que encontrei morta
num canto escondido de meus desejos
e de minhas falsas idealizações
22.11.2022
(Ilustração: Edvard Munch)
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