4 de abr. de 2023

rosa morta

 




quero olhar para a frente

e o passado me chama e me devora

olho as minhas pegadas na lama das trilhas de outrora

cada espinho que pisei deixa cicatrizes de momentos

vividos e decantados na secura dos ventos



penso que ainda não logrei

ser o que desejava

o intento de um dia esquecido

na margem da estrada

foi um tempo perdido

foi um passo para o nada



se crio metáforas de estranhas linhagens

para desculpar o desencanto do que hoje me tornei

esbarro nas distantes paisagens

de minhas esperanças inalcançáveis

e improváveis



resta-me gritar o grito rouco dos fugitivos

no estranhamento da vida a que sobrevivi

e semear pelos caminhos os poemas que não escrevi

nas folhas secas e nas flores murchas que pisei



ao tentar criar inimagináveis tempos felizes

marcaram-me o corpo apenas as cicatrizes

e o que pensei que era felicidade

tornou-se a gota de suor de batalhas perdidas



sei que isso pouco importa

quando vejo que a esperança jaz no túmulo das desilusões

há muito apenas uma rosa que encontrei morta

num canto escondido de meus desejos

e de minhas falsas idealizações




22.11.2022

(Ilustração: Edvard Munch)

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